"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Livros: esse 'pode' e aquele 'não pode'.

Meus dois netinhos amados.

Já vi muitas pessoas se justificando que não buscam literatura baseada em escritos bíblicos porque a letra mata e porque Deus não é objeto de estudo. No entanto, eu vejo algumas dessas mesmas pessoas - que repetem essa frase mecanicamente e sem muita convicção do que fala - sorvendo livros um tanto estranhos. Por exemplo, para um crente quem se diz tão ascético, literatura como de evangelho espírita me soa meio contraditório.

Nada contra qualquer estilo literário. Até porque, independente do teor, geralmente nos quedamos a determinados estilos em determinadas épocas ou fases da vida. Por exemplo, houve uma época da minha vida em que eu era fascinada pelo tipo de literatura do Garcia Marquez (tenho tudo dele!) e do Saramago (quase tudo) e hoje em dia nem tanto... Também já gostei muito mais de suspense com pitadas bem dramáticas que, atualmente, em nada me apetece. Na minha juventude detestava literatura brasileira por causa da obrigação escolar. Isso trava qualquer criatividade. Mas aí já é outra história...

Sou a favor de que se leia de tudo: de porcaria à chamada nata literária. Para que se tenha um conhecimento amplo e abrangente. E, principalmente, porque conhecendo também o que não presta é que, paradoxalmente, se livra de certas boçalidades e preconceitos culturais e religiosos, à medida, que se vai desenvolvendo uma maturidade, um bom gosto e um senso crítico bem apurado.

Eu tenho um neto de cinco anos, que antes de completar quatro, pegou um livro da minha prateleira e disse: vó, posso ficar com esse livro? Eu achei aquilo muito interessante, larguei o que estava fazendo e me sentei ao seu lado falando sobre aquele livro, sobre o autor, sobre um futuro próximo em que ele iria começar a ler aquele livro e tal… Abri numa página específica e comecei a recitar o clássico amor é fogo que arde sem se ver, fazendo uma analogia com Coríntios 13. Obviamente, falando em linguagem simples e acessível à sua idade, sem contudo, subestimá-lo.

O nome do volumoso livro é ‘Obra Completa de Luís de Camoes’. Fiz uma dedicatória e entreguei-lhe de forma divertida, mas com leve toque de solenidade, de maneira que aquilo ficasse em sua memória. Ele não morava aqui mas eu era sempre informada de que, com frequência, ele dizia: 'me dá o livro do Camoes'. Então se sentava em lugar isolado e fixava a visão em determinada página... E ficava lá concentrado um tampão como se estivesse lendo. Depois disso, já lhe dei outros dois do mesmo naipe. Inclusive, um deles, em inglês. Já está virando vício. (Risos)

Alguns podem pensar que isso é prematuro ou que poucas crianças têm esse talento, mas é porque não querem enxergar que a tecnologia está ativando o cérebro dessas criaturinhas de forma cada vez mais admirável e precoce! Ora, se essa gurizada pega um Ipad ou um Ipod e os manuseiam de forma incrivelmente rápida e autodidática, porque eles não o fariam com outras informações? 

Quanto mais as nossas adolescentes… Eu tenho uma sobrinha que vai completar 13 anos em agosto e desde os oito, nove, devora literatura infanto-juvenil e, ultimamente, alguns bem adultos. Ela até me empresta! Sou meio suspeita por ser sua fã, mas sua impressionante maturidade a destaca dessas doidinhas fúteis que se vê por aí. Passando bem longe de ser nerd (nada contra nem a favor rss) nem tampouco pulando etapas. Sendo apenas uma menina desencanada e gostando de curtir coisas próprias da idade. Eu, que me considero super moderna e acompanhando sua trajetória de vida desde o nascimento, fico impressionada com algumas colocações dela frente as vicissitudes da vida. Bora combinar, com um leque enorme de possibilidades, hoje em dia quase nenhuma jovem se limita a ler livro apenas do tipo ‘Pollyanna’.

Enfim, me estendi colocando minha opinião pessoal e abrindo minha vida particular (pra variar rss) na intenção de ilustrar um pouco a realidade atual que, certamente, é a de muitos leitores. Não podemos ser ingênuos e querer tapar o sol com a peneira. A informação está aí batendo na cara dos nossos jovens, instigando-os, desafiando-os. E nenhum pai, nenhuma mãe, nenhum adulto responsável - muito menos um líder religioso! - consegue controlar isso. A única coisa que se pode – e deve! - fazer é sentar e conversar, participar efetivamente da vida do garoto e da garota, dar bons exemplos, exemplos sadios e práticos, quebrando tabus, orientando com equilíbrio e dentro da realidade atual. E eu falo de orientação na acepção da palavra, e não da perniciosa repressão notadamente desastrosa realizada nos meios religiosos.

A proibição sumária - velada ou explícita - é que incita o jovem, de um lado à desinformação e limitação, de outro, à busca curiosa bem característica da natureza humana em qualquer geração. Quero dizer, essa curiosidade nunca foi privilégio da modernidade. E, o pior da proibição: um estímulo à hipocrisia, e, consequentemente, ao afastamento do meio familiar; ou, no máximo – igualmente desastroso! – uma relação fingida e dissimulada, que muitos pais veem como perfeição de família de propaganda de margarina na TV. A História recente da religiosidade nos tem denunciado isso de forma muito clara. E o ponto nevrálgico reside justamente nos ensinamentos sistematizados. Sinceramente, eu não consigo entender como alguns dirigentes religiosos não conseguem atinar para algo tão óbvio, repetindo os mesmos equívocos doutrinários.

RF.


2 comentários:

Wendel Bernardes - Lendas de Vidas disse...

Penso beeeem parecido Rê, e creio que quando se possui um coração 'puro', ou mesmo um olhar positivo, somos impulsionados a enxergar positividade em tudo.

Claro que aprendizado não é apenas isso. Aprender é ver o 'bom' e o 'mal'... a ver com bons olhos ou com olhar preconceituoso...
Mas isso é outra história...

Beijos

Regina Farias disse...

Então...

Se nossos olhos são bons se extrai beleza da pedra mais bruta. - parafraseando o Mestre rss

besos