"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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terça-feira, 5 de março de 2013

Eu também ficaria com a abóbora e as vinhas...





Um homem caminhava pela estrada, levando em uma das mãos um tijolo e, na outra, uma pedra. Nas costas, carregava um saco de terra e do pescoço pendiam algumas vinhas. Completando a inusitada carga, equilibrava sobre a cabeça pesada abóbora. Sua figura chamava a atenção e um transeunte o parou e lhe perguntou: “Por que você carrega esta pedra tão grande?”

O viajante olhou para a mão e comentou: “Que estranho! Eu nunca havia notado que a carregava...” Assim dizendo, lançou fora a pedra, continuando sua marcha, sentindo-se agora bem melhor.

Mais adiante, outro transeunte, lhe indagou: “Você parece muito cansado. Mas, por que carrega uma abóbora tão pesada na cabeça?”

“Estou contente que tenha me perguntado”, falou o viajante. “Eu nem havia notado o que estava fazendo comigo mesmo”. Então, jogou para longe a abóbora, prosseguindo a andar com passos mais leves.

Assim foi pelo caminho todo. Cada pessoa que ele encontrava, lhe falava de um dos pesos que ele levava consigo. Por sua vez, o viajante os ia descartando, um a um, até se tornar um homem livre, caminhando como tal.

Seus problemas, acaso, eram a pedra, o tijolo, a abóbora? Naturalmente, não! Era a falta de consciência da existência delas. Quando as viu como cargas desnecessárias, lançou-as longe, liberando-se.

Esse é o problema de muitos de nós.Carregamos a pedra dos pensamentos negativos, o tijolo das más impressões, a pesada carga de culpas por coisas que não se poderia ter evitado. Penduramos ao pescoço a autopiedade, conceitos de punição e de que tudo está perdido, sem solução.

Não é de nos admirarmos, pois, que nos sintamos tão cansados, sem energia!
Portanto, hoje, verifiquemos se estamos carregando a carga da mágoa, o mármore do remorso, a lápide da culpa. Seja um tijolo de recriminações ou uma grande pedra de queixas, lancemos tudo longe...

Aprendamos a nos libertar e nos sintamos mais leves, seguindo pela estrada da vida como quem anda ao sol, em plena primavera, aspirando o ar das manhãs, enchendo pulmões e oxigenando o cérebro.
Desafoguemos o coração dos quilos de mágoa e vivamos lúcidos, perseguindo objetivos maiores.
Não culpemos os outros pelo nosso desânimo e nosso cansaço. Olhemos para nós mesmos, conscientizemo-nos das cargas desnecessárias, tomemos as devidas providências.

Sigamos felizes, leves, conscientes, perseguindo metas de saber, luz, paz, felicidade.

Mantém a tua consciência desperta. Não te deixes consumir pelo desalento ou por qualquer sentimento de incapacidade.

Aprimora-te sempre. Ilumina-te sempre e trabalha para alcançares a felicidade, que tanto anseias.

(bem, eu, pessoalmente, ficaria com a abóbora e as vinhas...)

Recebi por e-mail a parábola acima.

Meu comentário, abaixo: 

Bonita parábola, mas discordo que o homem consiga tirar todo o peso das costas sozinho. Discordo que ele não tenha a consciência e basta que alguém do lado dê um toque. Ele tem a consciência disso. Ele sabe que carrega o peso. E ele sofre demais com tudo isso e, mesmo assim, segue teimoso e sofrendo com sua carga. E ainda encontra forças para cantar na sua árdua caminhada ‘eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim...’

Nosso orgulho, nossa vaidade, nossa resistência e nossa teimosia em carregar tudo isso sozinho são bem maiores do que todos os ressentimentos que culminam numa série de pressuposições que nos escravizam a alma, nos oprimindo e nos minando as forças físicas e emocionais.

Ora, carregar sozinho ou livrar-se sozinho constituem-se em arrogância desde que o mundo é mundo. E há relatos bíblicos que nos apontam que, nessa teimosia, neguinho bate com a cara na parede. Pois que tudo isso só se neutraliza quando nos submetemos ao amor. Somente o amor. Aquele amor incondicional, sem barganha, aquele amor desinteressado e despretensioso que nem a outra mão viu! Somente esse amor é capaz de ir tirando todas as marcas dos inevitáveis espinhos que nos atingiram ao longo da vida.

E só quem tem a capacidade de neutralizar isso é Jesus ao nos revelar o Seu Amor. E esse processo é algo realizado durante a vida inteira. Por causa da natureza humana e do fato de vivermos em relacionamentos, é inevitável o constante lidar com as próprias cargas. É um eterno descarregar. É diário. É no cotidiano. É no chão da existência.

Paulo (o apóstolo) resumiu em poucas palavras a natureza humana: ‘O querer bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo’. Ao mesmo tempo ele explica aos coríntios como se deve amar de forma perfeitamente alcançável. Pois não sendo daquela forma não tem proveito algum. Mas, para isso, Jesus ensina que é necessário sair-se do ‘si mesmo’. Porque nosso maior adversário é o nosso próprio coração. É ele que nos contamina por inteiro. É dele que procedem todos os males que assolam o planeta.

O mesmo Paulo nos diz na mesma passagem que a fé e a esperança são necessárias mas temporais e que apenas o amor é para sempre, é eterno. E eu fico pensando sobre o que disse certa vez um pregador sobre a fé e a esperança estarem atrelados às ânsias pessoais, enquanto o amor está relacionado ao próximo. Aí eu me lembro da resposta de Jesus ao letrado escriba sobre os herdeiros da vida eterna: aquele que ama a Deus com todo coração, toda alma, todas as forças, todo entendimento... E ao próximo como a si mesmo. Ou seja: uma vida constante de adoração/doação. Quando nos doamos abrimos mão daquela velha natureza que nos puxa para dentro de nós mesmos, nossas próprias razões, nosso resistente peso desnecessário e vão.

Esse é o pensamento de Jesus para nós. Por isso que eu só vejo lucidez em Sua proposta. Em sua proposta não há nada de ritos e cerimônias complementares. É simplesmente no chão da existência que se pratica o que Jesus requer de cada um de nós.

O resto é crendice religiosa que não diz absolutamente nada da proposta de Jesus para uma vida leve e saudável. Essa vida ‘em abundância’ que Ele tanto quer pra nós e que nós reinventamos com nossa carga de acréscimos culturais/religiosos que só nos enchem de culpa e vícios do coração.

Lamentavelmente, muitos entendem o ‘vinde a mim’ de Jesus como mero tratamento aos que estão com a auto-estima em baixa (do tipo: não fique triste, Jesus te ama) ou como sinônimo de render-se a um pacote doutrinário de uma suposta nova Jerusalém aqui na Terra. As igrejas lotadas que nos digam de ambos...

O texto acima diz: ‘Sigamos felizes, leves, conscientes, perseguindo metas de saber, luz, paz, felicidade’. Ora, essa é a ideia! Duvido que não seja a vontade de cada ser pensante que existe na face da terra. Todo mundo quer ser feliz! Desde o que mora numa casinha de sapê lá nos confins do sertão até o que mora no castelo medieval irlandês. Entretanto, são poucos os que se desarmam e abrem mão das inutilidades pesadas! Precisamos nos desconstruir continuamente, a fim de recolocar o que serve e lançar fora o que não serve mais.

Eu também ficaria com a abóbora e as vinhas. 

(As abobrinhas também são imprescindíveis!)

A abóbora, por estar pesada, eu repartiria. Não precisaria ir muito longe nem fazer um treinamento de ministério ou um curso de teologia. Repartiria com aqueles que estivessem ao meu redor. Simples assim. Sem oba oba, sem auê, sem consultas ao oráculo a respeito de algo que já me foi revelado.

As vinhas me seriam bem mais leves se eu as tirasse das minhas próprias costas e as repartisse também. Apenas ficaria na liderança em relação ao cuidado por elas, pois delas tiraria o meu sustento, dos meus e do meu próximo necessitado. Pois de muito pouco necessitamos apesar do apelo gritante da mídia sobre parâmetros de felicidade.

Repartir. Eis a cura. Não uma cura completa, posto que é um processo para a vida inteira. E não, necessariamente, um repartir de bens materiais. E não, necessariamente, com ‘o irmão da minha igreja’. É um contínuo olhar-se para dentro e uma constante busca daquilo que opera pelo amor. Então fluirá o perdão, a compaixão, a bondade e a simplicidade da alegria genuína. E - como diria o pregador - se tudo isso não estiver enraizado em nós, só tem um jeito: pedir misericórdia a Deus. Todos os dias da nossa existência. Não sendo assim, continuaremos nos impregnando pelo mal que seca a umidade do amor no chão da nossa alma.

RF.
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