Um homem caminhava pela estrada, levando em uma das mãos um
tijolo e, na outra, uma pedra. Nas costas, carregava um saco de terra e do
pescoço pendiam algumas vinhas. Completando a inusitada carga, equilibrava
sobre a cabeça pesada abóbora. Sua figura chamava a atenção e um transeunte o parou e lhe
perguntou: “Por que você carrega esta pedra tão grande?”
O viajante olhou para a mão e comentou: “Que estranho! Eu
nunca havia notado que a carregava...” Assim dizendo, lançou fora a pedra,
continuando sua marcha, sentindo-se agora bem melhor.
Mais adiante, outro transeunte, lhe indagou: “Você parece
muito cansado. Mas, por que carrega uma abóbora tão pesada na cabeça?”
“Estou contente que tenha me perguntado”, falou o viajante.
“Eu nem havia notado o que estava fazendo comigo mesmo”. Então, jogou para
longe a abóbora, prosseguindo a andar com passos mais leves.
Assim foi pelo caminho todo. Cada pessoa que ele encontrava,
lhe falava de um dos pesos que ele levava consigo. Por sua vez, o viajante os
ia descartando, um a um, até se tornar um homem livre, caminhando como tal.
Seus problemas, acaso, eram a pedra, o tijolo, a abóbora? Naturalmente, não! Era a falta de consciência da existência delas. Quando as viu como cargas desnecessárias, lançou-as longe,
liberando-se.
Esse é o problema de muitos de nós.Carregamos a pedra dos pensamentos negativos, o tijolo das
más impressões, a pesada carga de culpas por coisas que não se poderia ter
evitado. Penduramos ao pescoço a autopiedade, conceitos de punição e de que
tudo está perdido, sem solução.
Não é de nos admirarmos, pois, que nos sintamos tão
cansados, sem energia!
Portanto, hoje, verifiquemos se estamos carregando a carga
da mágoa, o mármore do remorso, a lápide da culpa. Seja um tijolo de recriminações ou uma grande pedra de
queixas, lancemos tudo longe...
Aprendamos a nos libertar e nos sintamos mais leves, seguindo
pela estrada da vida como quem anda ao sol, em plena primavera, aspirando o ar
das manhãs, enchendo pulmões e oxigenando o cérebro.
Desafoguemos o coração dos quilos de mágoa e vivamos
lúcidos, perseguindo objetivos maiores.
Não culpemos os outros pelo nosso desânimo e nosso cansaço. Olhemos para nós mesmos, conscientizemo-nos das cargas
desnecessárias, tomemos as devidas providências.
Sigamos felizes, leves, conscientes, perseguindo metas de
saber, luz, paz, felicidade.
Mantém a tua consciência desperta. Não te deixes consumir
pelo desalento ou por qualquer sentimento de incapacidade.
Aprimora-te sempre. Ilumina-te sempre e trabalha para
alcançares a felicidade, que tanto anseias.
(bem, eu, pessoalmente, ficaria com a abóbora e as
vinhas...)
Recebi por e-mail a parábola acima.
Meu comentário, abaixo:
Bonita parábola, mas discordo que
o homem consiga tirar todo o peso das costas sozinho. Discordo que ele não tenha a
consciência e basta que alguém do lado dê
um toque. Ele tem a consciência disso. Ele sabe que carrega o peso. E ele sofre demais com tudo isso
e, mesmo assim, segue teimoso e sofrendo com sua carga. E ainda encontra forças para cantar
na sua árdua caminhada ‘eu nasci assim,
eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim...’
Nosso orgulho, nossa vaidade, nossa resistência e nossa teimosia em carregar tudo isso sozinho são bem maiores do que
todos os ressentimentos que culminam numa série de pressuposições que nos escravizam a alma, nos oprimindo e nos minando as forças físicas e emocionais.
Ora, carregar sozinho ou livrar-se
sozinho constituem-se em arrogância desde que o mundo é mundo. E há relatos
bíblicos que nos apontam que, nessa teimosia, neguinho bate com a cara na
parede. Pois que tudo isso só se neutraliza quando
nos submetemos ao amor. Somente o amor. Aquele
amor incondicional, sem barganha, aquele amor desinteressado e despretensioso que nem a outra mão viu! Somente
esse amor é capaz de ir tirando todas as marcas dos inevitáveis espinhos que nos atingiram
ao longo da vida.
E só quem tem a capacidade de
neutralizar isso é Jesus ao nos
revelar o Seu Amor. E esse processo é algo realizado durante a vida inteira. Por causa da natureza humana e do fato de vivermos em relacionamentos, é inevitável o constante lidar com as próprias cargas. É um eterno descarregar. É diário. É no
cotidiano. É no chão da existência.
Paulo (o apóstolo) resumiu em
poucas palavras a natureza humana: ‘O querer bem está em mim; não,
porém, o efetuá-lo’. Ao mesmo tempo ele explica aos
coríntios como se deve amar de forma perfeitamente alcançável. Pois não sendo daquela forma não tem proveito
algum. Mas, para isso, Jesus ensina que é necessário sair-se do ‘si mesmo’. Porque nosso maior
adversário é o nosso próprio coração. É ele que nos contamina por inteiro. É dele
que procedem todos os males que assolam o planeta.
O mesmo Paulo nos diz na mesma
passagem que a fé e a esperança são necessárias mas temporais e que apenas o amor
é para sempre, é eterno. E eu fico pensando sobre o que disse certa vez um
pregador sobre a fé e a esperança estarem atrelados às ânsias pessoais, enquanto o amor está relacionado ao próximo. Aí eu me lembro da resposta de
Jesus ao letrado escriba sobre os
herdeiros da vida eterna: aquele que ama a Deus com todo coração, toda alma,
todas as forças, todo entendimento... E ao próximo como a si mesmo. Ou seja:
uma vida constante de adoração/doação. Quando nos doamos abrimos mão daquela velha
natureza que nos puxa para dentro de nós mesmos, nossas próprias razões, nosso
resistente peso desnecessário e vão.
Esse é o pensamento de Jesus para
nós. Por isso que eu só vejo lucidez em Sua proposta. Em sua proposta não há
nada de ritos e cerimônias complementares. É simplesmente no chão da existência que se pratica o que Jesus
requer de cada um de nós.
O resto é crendice religiosa que
não diz absolutamente nada da proposta de Jesus para uma vida leve e saudável.
Essa vida ‘em abundância’ que Ele tanto quer pra nós e que nós reinventamos com
nossa carga de acréscimos culturais/religiosos que só nos enchem de culpa e vícios do coração.
Lamentavelmente, muitos entendem o ‘vinde a mim’ de Jesus como mero tratamento aos que estão com a auto-estima em baixa (do tipo: não fique triste, Jesus te ama) ou como sinônimo de render-se a um pacote doutrinário de uma suposta nova Jerusalém aqui na Terra. As igrejas lotadas que nos digam de ambos...
Lamentavelmente, muitos entendem o ‘vinde a mim’ de Jesus como mero tratamento aos que estão com a auto-estima em baixa (do tipo: não fique triste, Jesus te ama) ou como sinônimo de render-se a um pacote doutrinário de uma suposta nova Jerusalém aqui na Terra. As igrejas lotadas que nos digam de ambos...
O texto acima diz: ‘Sigamos
felizes, leves, conscientes, perseguindo metas de saber, luz, paz, felicidade’.
Ora, essa é a ideia! Duvido que não seja a vontade de cada ser pensante que
existe na face da terra. Todo mundo quer ser feliz! Desde o que mora numa casinha
de sapê lá nos confins do sertão até o que mora no castelo medieval irlandês. Entretanto, são poucos os que se desarmam e abrem mão das inutilidades pesadas! Precisamos nos desconstruir continuamente,
a fim de recolocar o que serve e lançar fora o que não serve mais.
Eu também ficaria com a abóbora e
as vinhas.
(As abobrinhas também são imprescindíveis!)
(As abobrinhas também são imprescindíveis!)
A abóbora, por estar pesada, eu
repartiria. Não precisaria ir muito longe nem fazer um treinamento de
ministério ou um curso de teologia. Repartiria com aqueles que estivessem ao
meu redor. Simples assim. Sem oba oba, sem auê, sem consultas ao oráculo a respeito de algo que já me foi revelado.
As vinhas me seriam bem mais
leves se eu as tirasse das minhas próprias costas e as repartisse também.
Apenas ficaria na liderança em relação ao cuidado por elas, pois delas tiraria
o meu sustento, dos meus e do meu próximo necessitado. Pois de muito pouco
necessitamos apesar do apelo gritante da mídia sobre parâmetros de felicidade.
Repartir. Eis a cura. Não uma cura completa, posto que é um processo para a vida inteira. E não, necessariamente, um
repartir de bens materiais. E não, necessariamente, com ‘o irmão da minha
igreja’. É um contínuo olhar-se para dentro e uma constante busca daquilo que opera pelo amor. Então
fluirá o perdão, a compaixão, a bondade e a simplicidade da alegria genuína. E - como diria o pregador - se tudo isso não estiver enraizado em nós, só tem um jeito: pedir misericórdia a Deus. Todos os
dias da nossa existência. Não sendo assim, continuaremos nos impregnando pelo
mal que seca a umidade do amor no chão da nossa alma.
RF.
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