"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Escolha: CURA ou murro em ponta de faca





Tem gente que vive repetindo aos quatro cantos do mundo que não tem problema de carência, entretanto revela justamente o contrário quando grita por todos os poros que o mundo tem uma enorme dívida com ela. E se revolta porque não pode reverter a situação em que ela mesma se colocou, ficando mais injuriada por não poder punir quem acha que merece a devida punição. Curiosamente, consegue enxergar as pessoas que são egoístas, que só se preocupam com o próprio umbigo, analisando-as minuciosamente conforme sua própria ótica ressentida e limitada. Leva anos alimentando sua autocomiseração, sempre atribuindo a outrem as consequências das próprias escolhas. E, mesmo quando um dia resolve ‘tomar uma atitude’, e as coisas não tomam exatamente aquele rumo que queria, se frustra sem admitir que não se organizou e apenas quis que as coisas acontecessem ‘do seu jeito’. Então, quando percebe que sua vontade não foi realizada, credita a outras pessoas todo o fracasso de seus intentos.

Faz a salada da justiça própria atribuindo ao diabo todo tipo de problema, dificuldade, más intenções veladas, falsidade, covardia. Tudo o que é de ruim nessa vida simplifica com a palavra diabo. Então, sem atinar para a armadilha que o próprio diabo prepara dentro dela mesma, segue detonando todo mundo e  afirmando com todas as letras que quer mais é botar a titica no ventilador. A própria titica. Não admite nem se conforma que apenas ela esteja suja. Quer salpicar a sujeira em outros! De preferência, naqueles que, segundo seu próprio julgamento, são responsáveis por ela estar na sujeira. Ou seja: atribui ao diabo todo tipo de problema nos outros, enquanto suas próprias ações e reações insanas são permitidas, já que na sua cabeça, é tudo fruto de injustiça sofrida. Então, seu espírito religioso entra em ação com toda força, afirmando que Deus há de pesar a mão naqueles que (supostamente) a prejudicaram. Carregando uma enorme lista no coração amargo, sai acusando e nomeando claramente determinadas pessoas, por cada um dos próprios dissabores e consequentes prejuízos experimentados.

Afasta-se de todos – familiares em primeiro plano - ficando à margem de todos os tipos de relacionamentos saudáveis, sem se dar conta de que não são os outros que se afastam, e sim ela mesma que os afasta com a sua agressividade, sua amargura, sua justiça própria e sua intolerância. E, quando se depara com alguém que resolve conversar, sem intransigência, mas também sem complacência - colocando o preto no branco - 'lamenta' com forte tom irônico, o fato de ainda não ter atingido o grau de purificação daquela pessoa. E aproveita para desfolhar o rosário das diferenças entre sua interlocutora de vida arrumadinha, e ela, a completa arruinada. Afinal, em sua cabecinha surtada, tudo isso lhe dá o direito de atirar, não apenas para todos os lados, mas para cima e para baixo.

Acha que vida espiritual está dissociada da vida em geral e que resume-se a práticas religiosas agendadas; se diz em 'comunhão com Deus' mas não consegue aplicar essa comunhão na vida prática; uma dificuldade mais séria denuncia a superficialidade dessa comunhão; diz que ressentimento não tem nada a ver com atualidade, tentando enganar a si mesma que deixou no passado o que não pode ser mudado. Ora, ressentimento é algo bem atual, uma vez que surge de um sentimento que ganha força a cada dia. Um sentimento que se REnova. Daí o nome REssentimento.  É uma coisa antiga, guardada, fétida e cheia de bactérias que, atualizada, traz o seu inevitável ônus: provoca os mais terríveis destroços na própria pessoa, impedindo-a de realizar as tarefas mais simples, posto que sua mente está escravizada, presa a um passado mal resolvido que vem sempre à tona, arremessado pelas águas da amargura que a impedem de tratar do assunto mais corriqueiro de maneira sensata e equilibrada.

Constantemente confusa e contraditória, enquanto diz que consciência faz parte do julgamento no Juízo Final, afirma - em tom velado de ameaça - que tal situação tem que ser resolvida, por bem ou mal. Diz que assume as vaciladas que deu na vida, mas ao mesmo tempo faz acusações, dizendo que foi rejeitada, expulsa do convívio. Usa a expressão ‘expulsa’ sabendo que vai influenciar na mente do espectador por ser uma palavra com forte tom de reprovação ao senso comum. Porém, convenientemente, decide esquecer o contexto onde tal ‘expulsão’ aconteceu. Pela própria irreverência, pela própria intolerância, pela própria leviandade.

Paradoxalmente, considera-se o suprassumo do ser humano. Uma pessoa responsável. Excelente profissional, mãe/pai excepcional, amigo(a), companheiro(a), mas do tipo, ‘quem não me aceita, problema de quem não me aceita’. Dono(a) de um autojulgamento impecável tem convicção de que o problema está sempre nos outros. Jamais vai admitir, conscientemente, que o nome de tudo pelo qual está passando é CONSEQUÊNCIA DAS PRÓPRIAS ESCOLHAS. Consequência dos próprios atos. Pois tudo na vida tem seu preço e a conta um dia vem.

E ninguém ouse dizer-lhe para ter paciência e humildade. Na sua concepção, é uma tremenda ironia pedir a alguém que tá na m#@*& pra ter paciência, porque ela vai racionalizar lembrando as diferenças socioeconômicas, porém sem deixar de arrematar com a batida no peito que  humildade eu tenho, pois é de mim mesma, confundindo seu estilo de vida desprovido de glamour e bens materiais, com simplicidade e humildade.

Ora, definitivamente, humildade não é do ser humano. Nunca foi! Muito pelo contrário. O ser humano, pela própria natureza caída, é pretensioso, arrogante, orgulhoso, teimoso, vingativo, voluntarioso, vaidoso e cheio de justiça própria. Somente quando ele se esvazia de si mesmo e QUER o socorro verdadeiro - que nada tem a ver com denominação religiosa - é que Deus faz morada no seu ser. E assim mesmo, isso ainda é um processo pela vida inteirinha. Uma obra inacabada, onde entregamos todas as nossas resistências e somos colocados em constante renovação. E assim nos entregamos a esse moldar por toda a nossa existência. E então percebemos que o nosso coração vai sendo pacificado e vamos acalmando-nos, pois que tivemos uma experiência única em nosso ser, um encontro pessoal com Deus, e nos maravilhamos, porque sem nenhum mérito nosso, foi feita a reconciliação. Aquela reconciliação da Cruz cuja revelação teve o momento certo na nossa vida e fez cair por terra todos os nossos ‘eus’. É quando caímos na real e fazemos a nossa entrega verdadeira! É também quando descobrimos que nosso maior oponente é o nosso próprio coração. E ficamos em paz mesmo em meio ao caos.

Por isso, a paciência é uma ironia. Pois paciência vem de PAZ. Essa paz que vem de Deus e que está acima das circunstâncias. Essa paz que nos livra do autoengano e nos faz largar as armas que Satanás coloca sutilmente em nossas mãos ‘para derrotar os que nos fazem mal’, pois que não passam de armadilhas para nos destruir a nós mesmos. Essa paz que nos mostra o quanto somos tolos quando achamos que estamos sendo realistas. Essa paz que é fruto da substituição de todos os cerimonialismos pagãos das exaustivas e repetitivas orações e jejuns pela entrega total e irrestrita das nossas raivas, do nosso orgulho ferido e das nossas teimosias. E só tem um segredo para se alcançar essa paz: converter-se ao SENHOR! O convite de Jesus não é meramente para ocuparmos um banco da igreja e seguirmos uma lista de obrigações religiosas. O convite de Jesus é para o arrependimento, que vem acompanhado de uma vontade permanente de mudança de conceitos.  E, como falou certa vez um pregador, ‘a consciência do Evangelho em nós é PERDÃO. Sem essa consciência é impossível fazer a viagem existencial de mudanças interiores’. Viagem esta, que durante o seu percurso desistimos de dar murro em ponta de faca, posto que um caminho excelente que promove CURA.



Textos Complementares:






domingo, 26 de agosto de 2012

Vidas Suburbanas

Aline Morais, no Centro do Rio, em cenas do remake 'O Astro'.



Tarde-noite no Centro do Rio, mas poderia ser numa outra metrópole qualquer. O cenário em nada lembrava as lindas canções de Tom e Vinicius. Na verdade tudo se parecia mais com um pesado samba canção, daqueles de dor de cotovelo, composto no subúrbio, num ‘Divino’ qualquer.

Eram semblantes pesados, preocupados, sofridos e cansados. Gente e mais gente acotovelando-se num ponto de ônibus, mas poderia ser numa estação de trem ou metrô, ou ainda num píer de barca qualquer, que levasse a lugar qualquer.

Não se falavam. Não se tocavam a não ser pelo óbvio esbarrão que se sente nesse ambiente. Na verdade as caras eram mesmo de poucos amigos. Os noticiários fomentam um medo coletivo que faz com que o próximo... (ou seja, aquela pessoinha ao seu lado), não seja exatamente seu ‘semelhante’, mas sim, na verdade, seu inimigo em potencial!

Em meio a fumaça de gazes tóxicos ‘permitidos’ emerge um coletivo amarelado, já lotado, com gente igualmente cansada, aguardando pelo ponto seguinte onde mais ‘próximos’ entrarão fazendo daquela viagem verdadeira sucursal do inferno.

Muitos vinham em pé. Na verdade eram maioria absoluta. Certamente mais de uma centena de sofridos cariocas, alguns fluminenses (e diversos imigrantes) se entreolhavam de rabos de olhos certamente pedindo a um deus qualquer que aquela viagem logo tivesse fim.

Amendoim salgado, com casca ou sem casca... bala halls, cerveja geladinha... promete a única voz que quebra o gelo, isso se não considerarmos o ronco daquele motor volvo um grito. Alguns se motivam e mastigam. Outros sedentos de mosto apenas aliviam sua sede de mais nada, num lugar comum, numa viagem comum, numa vida incomum demais.

Até que uma criatura pequena, de mãos dadas a uma idosa adentra como pode no coletivo. Os rostos em redor torcem narizes, fecham as caras e maneiam as cabeças. Mais gente, e ainda por cima velhinhas e crianças... Onde está o governo que não cuida do transporte urbano de massa? Esse é o pensamento que permeia a mente de um ou outro, mas poderia ser o pensamento de todos, em qualquer lugar caso vissem a cena.

Era uma menininha, aparentando não mais que quatro aninhos ou coisa assim... Já o tempo que faltava à menininha sobrava na velhinha que a guiava. Alias quem guiava quem?
Usava um vestido com rendas e babados, como que remetendo a épocas passadas, onde tudo parecia ser mais fácil, onde o engano se fazia presente apenas por despertar essa aparência.

A pequena pôs-se a cantar coisa qualquer aos ouvidos desacostumados a melodias infantis. Ou seriam esses ouvidos desacostumados a melodias quaisquer? A questão é que cantarolava sem parar num pequeno fôlego só, cantigas antigas ou cantos novos
Mas sempre com aquela pequena voz de quem mal fala, de quem mal sabe o que faz.

Até que uma senhora decidiu abolir seus fones de ouvido e passou a fitar a pequena com olhar ao mesmo tempo curioso e terno. Não demorou nem meio ponto de distância pra que ela mesma, acompanhasse balbuciando errante a letra à pequena de vestido retro.

Agora o incômodo era maior. Não fosse apenas a menina a cantar, mas era já uma dupla que oscilava entre as canções diversas.

Um rapaz com pinta de office boy com seu jeito peculiar passou a improvisar algo como que uma batucada de canto de boca. A linha percussiva estava assim por se definir. Algum tempo que eu não saberia precisar depois, o gelo estava completamente quebrado. A menina agia quase como uma mestra de cerimônias e geria seu público com ares de quem o fazia há décadas.

A viagem ainda demoraria muito a dar cabo à agonia de contar com serviços públicos numa metrópole, mas agora, entorpecidos pela inocência, pela alegria e pela vida da criança. Os adultos estavam menos angustiados. Pra alguns, o final da viagem até chegou rápido. Pra outros, demoraria o mesmo tempo, mas o fato é que o destino que levaria aquela princesinha ali mudou a viagem e talvez a vida de muitos dos que viajavam no ônibus.

Foram pra casa, pra faculdade, pras igrejas, ou visitar as mães, mas agora o caminho era embalado por nova perspectiva. Mostrando que uma canção pode influenciar não só um dia, mas despertar a inocência perdida dentro de cada um, fazendo seguir em frente para quem sabe focar a dor, ou a anestesia de viver amanhã mais um dia, em mais um coletivo qualquer, em mais uma estrada qualquer.


domingo, 19 de agosto de 2012

Discursos de 'mui' amigos religiosos...






Eu me recuso a acreditar em pontos de vista como o colocado por alguns comentaristas, de que Deus castiga com doença e morte, um filho que desobedece a determinadas regras. Regras tais que nem foram criadas por Ele, e sim que estão arraigadas no imaginário religioso das denominações igrejistas que acreditam que desmembrar-se da instituição religiosa é sinônimo de 'desviar-se', 'cair da graça'. Acham-se no direito de dar justificativas e explicações, analisando e julgando com base em suas próprias crentices, POR QUÊ aconteceu isso e aquilo com os 'irmãos' que abandonaram as mesmas crenças que eles.


As pessoas não percebem que dizem coisas contrárias ao evangelho como 'Deus crucifica a carne...', por exemplo. Estas mesmas pessoas vivem dentro da igreja e ainda não aprenderam que Jesus já pagou por nossos pecados na Cruz. Que Ele foi crucificado em nosso lugar. Que a dívida já foi paga. E a preço de sangue. Parece que muitos dos denominacionais tradicionalistas e fundamentalistas não conseguem atinar para algo tão simples e o sentido básico da Boa Nova, do Novo Testamento, do Evangelho da Graça. Parece que eles não conseguem enxergar o quanto eles mesmos estão anulando o Sacrifício Perfeito.


O 'vencedor', diante de Deus, também perde coisas materiais, sofre, adoece e morre das mais terríveis doenças. Mas, a grande verdade, é que algumas doutrinas religiosas teimam em querer enfiar na cabeça de seu rebanho, a arraigada ideia judaizante que acredita piamente que, se ele está cheio de 'bênçãos', é rico, não tem lepra e não é estéril, é porque é queridinho de Deus; e se um 'desviado' está com um câncer é porque Deus castigou. Ora, Deus usa 'até' os sofrimentos e o mal para realizar os Seus propósitos, mas passar ideia de sadismo e impiedade é coerção religiosa. Deus restaura nosso relacionamento com Ele, primeiramente, para que então possamos, em paz com nós mesmos, nos relacionarmos uns com os outros. Independente das circunstâncias.  Só que, a visão simplista que os religiosos têm acerca de Deus parece que se resume em: 'fulano sofre porque pecou'.


Ora, é na própria tragédia de Jó - citada nesta postagem por um comentarista - que cai por terra esse paradigma religioso. 'Homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal'(Jó 1.1b). O que significa que Jó não era, nem de longe, um 'desviado' e, no entanto, experimentou toda sorte de desventura que se possa imaginar. Então, sua história nos aponta para a velha pretensão do homem em querer julgar (e condenar) o outro e querer advogar as causas de Deus, como aconteceu com seus 'mui' amigos com seus discursos teológicos distorcidos e incompletos, conforme suas próprias experiências, suas crenças, suas tradições religiosas. (Nada de novo há...) Os amigos, em vez de perguntarem se ele estava precisando de alguma ajuda, ficaram questionando seu caráter e dizendo de Deus o que não era correto. Contra estes, sim, a ira de Deus se acendeu. Estes que questionavam - diante de um doente tremendamente sofrido - sobre as razões de Deus para permitir aflições. Caramba, não é que o pobre do Jó era ruim de amizade mesmo? (Bom, pelo menos de uns quatro lá da bíblia...) Pois além de estar ali caído, ainda levava 'coice' daqueles arrogantes. Quem tem amigo assim não precisa de inimigo. E, quem opta por seguir essa ideia, dificilmente poderá vislumbrar acerca do controle de Deus sobre os males causados pelo inimigo de nossas almas nem tampouco que nossos porquês nem sempre encontram respostas. Reconhecer Deus nas provações (Jó 19.25), apesar das tristezas e dores, é que é a verdadeira declaração de fé. Com direito a ficar confuso, ué!


Aliás, bora combinar que se fosse pra seguir essa linha de raciocínio limitado de que Deus castiga quem Lhe xinga e renega Seu nome, penso que seria uma excelente oportunidade para Ele detonar a mulher-mala sem alça de Jó. No entanto, não há registro de que Deus tenha aproveitado para se vingar, como querem alguns denominacionais, com seus ensinamentos neuróticos. Uma esposa que não conseguia ajudar o marido nem compreender a dobradinha ‘aflições versus paciência’ que, em vão, Jó tentava ensinar-lhe...  Cá pra nós, quem tem uma esposa daquelas também não precisa de inimigos. E isso não se restringe a Jó. Vemos muito isso no nosso cotidiano... E a psicologia explica, que quando o amor e as tristezas (doenças, frustrações, dificuldades financeiras) se cruzam, o raciocínio do(a) companheiro(a) é afetado, e a relação estremece nas bases. E ninguém melhor do que Jó para entender isso, respondendo com categoria ao insulto amargurado da mulher. (Jó 9.10)


Pois bem: passaram-se séculos e séculos... E absolutamente N-A-D-A mudou! Afinal, isso é bem da natureza caída do homem. Foi preciso o Verbo se fazer carne para que a gente entenda de uma vez por todas DE QUE FORMA O HOMEM DEVE ANDAR NA DIREÇÃO DO OUTRO, e mesmo assim, o povo continua cego, seguindo outro bando de cegos que dão as costas à simplicidade do Evangelho preferindo seguir cartilhas pesadas, ritualísticas, cerimonialísticas, que só os distanciam da sua genuína proposta e que (quase) N-A-D-A têm a ver com o ministério da reconciliação que nos foi imputado por Jesus. E, ironicamente, é exatamente o que acontece em algumas denominações, principalmente entre aqueles líderes religiosos, apavonados e cheios de si, que SE ACHANDO superiores espirituais, viajam na maionese da arrogância ao injuriar, constranger e condenar com argumentos injustos 'em nome do Senhor Jesus'. Isso é ter a pretensão de dizer que Deus disse o que Ele não disse. Isso, é sim, ANULAR o Perfeito Sacrifício. É disso que eu to falando...



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Com que roupa eu vou?


A roupa na Igreja.
Mas o que há de mal com a roupa social? O quê dá tanta importância ao ato de “vestir-se bem” para ir à igreja? Concordo que esse tema não aborda uma questão candente. De fato, eu não me preocupo muito com o modo das pessoas se vestirem para ir à igreja. A questão candente surge com relação ao significado da “roupa fina” dentro da igreja.

Primeiramente, esta atitude reflete uma separação entre o secular e o sagrado. Acreditar que Deus se preocupa com a roupa fina que você coloca para “visitar-lhe” é uma violação do novo Pacto. Temos acesso à presença de Deus em todo momento e circunstâncias. Na verdade, será que Ele espera que nós, na condição de Seu povo, nos vistamos domingo pela manhã como se fôssemos para um concurso de beleza?

Em segundo lugar, vestir roupa chamativa e luxuosa aos domingos pela manhã transmite uma falsa mensagem: Aquela igreja é o lugar onde os cristãos escondem sua verdadeira cara, “vestem-se bem” para parecerem agradáveis e belos.

Medite sobre estas coisas. Colocar sua “melhor roupa” aos domingos não é outra coisa senão criar uma impressão. Isso dá à casa de Deus todos os elementos de um teatro: Guarda-roupa, maquilagem, acessórios, luzes, porteiros, música especial, mestre de cerimônias, cargos, programa principal.

O hábito de usar “roupa dominical” na igreja viola a realidade de que a igreja é composta por pessoas reais com problemas de difícil solução. Podem ser pessoas reais envoltas em disputas conjugais, mas que após saírem do estacionamento e entrarem pela porta da igreja cobrem-se com grandes sorrisos!

O ato de vestir-se socialmente aos domingos oculta um problema básico subjacente. Fomenta a ilusão arrogante de que somos “bons” porque nos vestimos bem para Deus. É uma pretensão que desumaniza e constitui um falso testemunho diante do mundo. É necessário reconhecer que como seres humanos decaídos são raras as vezes que estamos dispostos a mostrar aquilo que realmente somos. Quase sempre contamos com nossa performance ou aparência (roupa) para fazer com que os outros pensem coisas agradáveis a nosso respeito. Tudo isso é bem diferente da modéstia característica da igreja Primitiva.

Em terceiro lugar, “vestir-se socialmente” para ir à igreja é o mesmo que dar uma bofetada na simplicidade (marca registrada da Igreja Primitiva). Os cristãos do primeiro século não procuravam “vestir-se bem” para atender aos encontros da igreja. Eles se reuniam na simplicidade de suas casas. Não se vestiam para mostrar a que classe pertenciam. Na realidade, os primeiros cristãos faziam esforços concretos para mostrar seu absoluto desdém pelas distinções sociais.

Na igreja, todas as distinções sociais eram apagadas. Os primeiros cristãos sabiam que eles representavam uma nova espécie sobre este planeta. Por esta razão Tiago (2:1-5) repreende os crentes que tratam melhor os ricos que os pobres. Ele repreende os ricos por vestir-se diferente dos pobres. Esta passagem também indica que usar roupa da moda na igreja era uma exceção, não uma regra.

Todavia, muitos cristãos mantêm o falso conceito de que é “irreverente” usar roupa informal no culto aos domingos. Isso não difere da atitude dos escribas e fariseus ao acusarem o Senhor e Seus discípulos de “irreverência” por não seguirem as tradições de seus antepassados.

Deus olha para o coração; Ele não se impressiona com o traje que usamos (1 Sam. 16:7; Lucas 11:39; 1 Pedro 3:3-5). Nossa adoração é no espírito, não na aparência física (João 4:20-24). Em seu livro Ante Pacem: Archaeological Evidence of Church Life Before Constantine (Mercer University Press/Seedsowers, 1985), Graydon Snyder afirma que há aproximadamente 30 cartas disponíveis escritas por cristãos antes de Constantino. Estas cartas são assinadas apenas pelo primeiro nome, o que indica que os cristãos não usavam os sobrenomes dos seus irmãos. A razão: Assim a origem social deles ocultava-se uns dos outros! 

Em suma, dizer que o Senhor espera que seu povo use roupa fina ao reunir-se na igreja, é aumentar as Escrituras e falar aquilo que Deus não disse. Tal prática é mais uma tradição humana. (Mc 7:1-13)

(Fragmentos do Capítulo 5 do livro ‘Cristianismo Pagão’ – Frank A. Viola - Negritos, sublinhados e itálicos meus - RF)

Complementando o texto:
No outro extremo desse teatro, há ainda quem, distorcendo a repreensão de Tiago, aproveita para passar um ideia mentirosa, incorporando um patético personagem que capricha numa performance meticulosamente recheada de ‘simplicidade e piedade’, que vai da indumentária e cara lavada (nos dois sentidos) aos gestos comedidos, voz meiga e sorriso forçado. Esse tipinho, sim, me dá náuseas. Confesso que em certos momentos mais vulneráveis, me dá vontade de dizer ao vestido: 'sai desse corpo que não te pertence'.
R.F.


A atriz Juliana Paes, interpretando uma 'crente'.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Doutrina de homens...

(Sarongue na Antiga Civilização ou 'Idade Antiga')
  1. 'Não haverá traje de homem na mulher, 
    e não vestirá o homem vestido de mulher, 
    porque qualquer que faz isto 
    abominação é ao Senhor teu Deus'. 
    (Dt 22.5)

    A interpretação, por meio da qual, mulher não usa calça comprida, deixa muitíssimo a desejar. Ou melhor, cai totalmente por terra, quando se aprende a interpretar de outra maneira, senão por meio daquela velha oralidade transmitida de avó para pai e de pai para filha, simplesmente pela tradição, sem uso de questionamento, do senso crítico, do bom senso e análise mais acurada. 

    Dentro daquele contexto, a colocação da indumentária é referente à possível troca de papéis relacionada aos sexos. Ou seja, a tônica é para a caracterização das roupas, e, evidentemente, acompanhada pelo comportamento não natural do próprio sexo. Naquela realidade histórica e sócio/cultural, havia um hábito de se travestir associado a algumas formas  pervertidas ligadas a práticas sexuais tanto 'homo' como 'hetero' em meio a sinistros cultos ditos pagãos onde ocorria tanta atrocidade, de fazer 'Jogos Mortais' um entretenimento infantil. Daí a expressão 'abominável ao SENHOR'. Ou seja: as perversões sexuais e aqueles cultos é que eram reprováveis. O que já descarta, de imediato, toda a orientação religiosa repassada ao longo dos tempos por determinadas denominações religiosas em relação ao uso de calça comprida pelas mulheres. E eu nem me refiro a religiões rígidas e inflexíveis de outras culturas, mas à nossa cultura mesmo e àquelas que se dizem cristãs, atribuindo a Jesus uma imposição gerada pelos próprios equívocos. 

    E nos dias de hoje, então... Bora combinar que não se aplica mesmo nada disso que os mais antigos  continuam insistindo em querer impor aos mais jovens que, diga-se de passagem, não estão mais engolindo silenciosamente essa interminável lista de normas relacionadas à própria exterioridade. (Basta ver os comentários destes em determinados blogs) 
    Ora, em nosso meio cultural, o fato de uma mulher usar calça comprida 'DE MULHER' - e não de homem - não tem absolutamente NADA de abominável a Deus. Sim, pois há calça comprida específica de mulher e calça comprida específica de homem. O que significa que está bem claro que, assim sendo, não estará a mulher vestindo roupa de homem nem tampouco o homem vestindo roupa de mulher. Da mesma forma que o fato de um homem vestir um sarongue, não exprime, necessariamente, violência a princípios. O que significa ainda - e principalmente - que, assim sendo, na sua mais ampla forma de 'vestir-se', ninguém estará ferindo o suposto código relacionado ao versículo acima.

    Portanto, se mulheres de algumas denominações que se ACOSTUMARAM a identificar-se assim, destacando-se orgulhosamente (vaidosamente) seguindo à risca (à risca mesmo? Há controvérsias...), determinações ligadas a exterioridades, mulheres estas que se dizem tão 'tementes' a Deus, se elas vissem mesmo essa prática como algo ABOMINÁVEL aos olhos de Deus, certamente não ousariam descumprir uma ordem divina tão contundente, por mais que 'o trabalho' exigisse. (E por mais que o apóstolo Paulo dissesse para obedecer ao chefe). Sim, pois não são poucas as mulheres que deixam escapar a desculpa esfarrapada 'Ah, eu uso calça comprida por exigência no trabalho'. (Amparando-se em ensinamentos de cartas paulinas sobre submissão)
    E que Deus incoerente é esse que me diz ser algo abominável aos Seus olhos, mas abre mão diante de outro 'senhor'. E, com todo o respeito, mas com todo o direito de um 'ser pensante' que tenho, o que eu acho muito contraditório - e até tolo e infantil, pra não dizer de uma hipocrisia sem tamanho! - é TER QUE usar calça no trabalho e, na saída, substituir por saia, como vejo muito por aí.... Já vi muito menina de shortinho bem curtinho, ou até bermuda mais composta, correr pra colocar um vestido ou saia e blusa quando vai chegar uma visita da irmandade em casa. Como se os olhos do Senhor não estivessem em todos os lugares...

    Outra desculpa esfarrapada, também retirada de todo um contexto de orientações paulinas - que se tornou um jargão intragável - diz que é 'para não escandalizar as mais fraquinhas'. Então, por que não começar esclarecendo?  Pois, se aquele comportamento, não provoca em mim quaisquer resquícios de crise de consciência, certamente terei como falar a esse respeito com firmeza e serenidade com qualquer pessoa que me abordar nesse sentido. 

    Toda essa confusão religiosa me lembra uma passagem em Levítico 18 (versículos de 6 a 18) que muitos crentes de boa fé, porém engessados pelas normas religiosas, também utilizam de forma tremendamente equivocada.

    Refiro-me, mais particularmente, a este versículo:

    'Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe, não lhes descobrirás a nudez'.(v7)

    Lembro-me de uma senhora já idosa que havia sido operada e, quando lá cheguei para visitá-la, seu filho sentir um grande alívio pela minha presença, pedindo-me para ir lá no quarto ajudá-la a levar ao banheiro com urgência. Não entendi porque ele mesmo não o fez, e ele me explicou que não podia porque ela estava com pouca roupa por baixo dos lençóis. Além, claro, da exposição inevitável da intimidade em um evento assim. Quando questionei acerca da necessidade urgente dela,  ele me deu esse versículo acima. Não concordei e expliquei a que se refere tal versículo. Ademais, que Deus inflexível é esse que impede que um filho auxilie a mãe? E se eu não chegasse ali? E só tivesse ele e mais ninguém para ampará-la? E as mães idosas que só geraram um filho? Deus ia permitir que ele a desamparasse, qualquer que fosse a situação? Deus é, acima de tudo, amparo, zelo, amor, cuidado, auxílio, atenção. E isso, Ele deseja que seja refletido na nossa vida prática, no nosso cotidiano. 

    Ora, qualquer pessoa que ler do versículo seis até o dezoito entenderá perfeitamente que aquela colocação ali se trata de INCESTO. Não precisa ser teólogo nem ter dons especiais, é suficiente APENAS se despir de regras estabelecidas, para entender o que está colocado de forma bem simples:

    Nudez descoberta --> referência a relações sexuais e/ou coabitação.

    Isso, porque naquele contexto, havia uma grande devassidão devido às ramificações espirituais e sociais ligadas ao pecado. Além disso, naquela época as pessoas viviam em clãs ou grupos numerosos, vivam em tendas, morava todo mundo junto, sendo tudo isso 'prato cheio' para a proximidade e a intimidade sexual. Inclusive, o capítulo 18 de Levítico se encerra com uma forte advertência (v24 a v30) contra o comportamento sexual pervertido, o que confirma a conotação e o sentido da  evidente referência ao incesto.

    Enfim... Como falei em comentário sobre 'usos e costumes' em um blog de um amigo, eu lembraria aqui as palavras de Jesus 'não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça', em mais um dos milhares momentos de controvérsias entre Ele e os judeus (com seus usos e costumes como passagem garantida para o céu), onde Ele rebate com veemência o rigor com leis estabelecidas, colocando em segundo plano a necessidade do próximo.

    Gente, pensar não faz mal algum. Ao contrário, derruba mitos. Inclusive os mitos que nos oprimem o corpo e a alma. E isso faz muito bem. Liberta! Liberta-nos dos velhos e carcomidos costumes, muitos deles, de origem pagã.

    N´Aquele que veio ao mundo, não para nos tirar a inteligência, mas livrar-nos dos nossos pecados. Inclusive, o da opressão religiosa.

    R.


-Mas o Imperador está nu!- Disse um garotinho. 
-Falou a voz da inocência!Exclamou o pai. 
E cochichou para outro o que a criança dissera:
- Ele está nu! 
Correu de boca em boca. 
- Ele está nu! Bradou finalmente o povo. 
O Imperador ficou envergonhado porque sabia que estavam certos.
 Mas refletiu: O cortejo precisa prosseguir! 
Aprumou ainda mais o corpo. 
E os camareiros, solenes, continuaram fingindo segurar o manto real 
que não existia. 
      (Hans Christian Anderson)




LER TAMBÉM --> A CURVA DA RUA CURVA