"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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segunda-feira, 7 de março de 2011

Os dois tipos de Igreja




Há dois modelos básicos de igreja: os chamados para fora e os chamados para dentro.

De acordo com Jesus, Igreja é comunhão de dois ou três em Seu Nome e em qualquer lugar. Podem ser quaisquer dois ou três. E não apenas certo tipo de dois ou três, conforme os manequins da religião.

Igreja - de acordo com Jesus - é algo que acontece como encontro com Deus, com o próximo e com a vida no caminho do Caminho. Prova disso é que o tema igreja aparece no Evangelho quando Jesus e Seus discípulos estavam no 'caminho' para Cesareia de Filipe: um lugar 'pagão' naqueles dias. Assim, tem-se o tema igreja sendo tratado no 'caminho' e em direção à 'paganidade' do mundo.

Para Jesus o lugar onde melhor e mais propriamente se deve buscar o discípulo é nas portas do inferno, no meio do mundo! Não posso conceber - lendo o Evangelho - que Jesus sonhasse com aquilo que hoje chamamos de 'igreja'. Não vejo Jesus tentando criar uma comunidade fixa e fechada, como também não percebo em Seu espírito qualquer interesse em reclusão comunitária.

No Evangelho o que existe em supremacia é a Palavra, que tanto estava encarnada em Jesus como era o centro de Sua ação.

No Evangelho nenhuma igreja teria espaço, posto que não acompanharia o ritmo do Reino e de seu caminhar hebreu e dinâmico.

Jesus escolhe doze para ensinar e não para que eles fiquem juntos. Ao contrário, a ordem final é para ir. São treinado a espalhar sementes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade, e a sobreviver com dignidade no caminho, com todos os seus perigos e possibilidade (Lc 10).

No caminho há de tudo. Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da existência. E Seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia entre eles.

Quanto às multidões, Jesus organiza apenas uma vez, e a fim de multiplicar pães. No mais elas vem e vão, ficam ou não, voltam ou nunca mais aparecem, gostam ou se escandalizam, maravilham-se ou acham duro o discurso. Mas Jesus nada faz para mudar isto. Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra. Ao contrário, vemos Jesus dificultando as coisas muitas vezes, outras mandando o cara para casa, outras dizendo que era preciso deixar tudo, outras convidando a quem não quer ir ou mesmo perguntando: vocês querem ir embora?

Não! Jesus não pretendia que Seus discípulos fossem mais irmãos uns dos outros do que de todos os homens.

Não! Jesus não esperava que o sal da terra se confinasse a quatro dignas e geladas paredes de maldade.

Não! Jesus não deseja tirar ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da terra. Apenas deseja que sejamos livres do mal.

Não! Jesus não disse "Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja; e ninguém vem ao Pai senão por mim".

Assim, na igreja dos chamados para fora, caminha-se e encontra-se com o irmão de fé e também com o próximo que não tem fé. E a todos se trata com amor e simplicidade.

Em Jesus não há qualquer tentativa de criar um ambiente protegido e de reclusão; nem tampouco a intenção de criar uma democracia espiritual na qual a média dos pensamentos seja a lei relacional.

Em Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa 'comunidade paralela', mas no mundo real.

Na igreja de Jesus cada um diz se é ou não é; e ninguém tem o poder de dizer diferente. Afinal, por que a parábola do Joio e do Trigo não teria valor na 'igreja'?

Na igreja de Jesus pode-se ir e vir, entrar e sair. E sempre encontrar pastagem.

O outro modo de ser igreja é, todavia, aquele que prevaleceu na história.

Nele as pessoas são chamadas para dentro, para deixar o mundo, para só considerarem 'irmãos' os membros do 'clube santo', e a não buscarem relacionamentos fora de tal ambiente.

A comunidade de Jerusalém tentou viver assim e adoeceu! Claro!

Quem fica sadio vivendo num mundo tão uniforme e clonado?

Quem fica sadio não conhecendo a variedade da condição humana?

Quem fica sadio se apenas existe numa pequena câmara de repetições humanas viciadas?

Sim, quem pode preservar um mínimo de identidade vivendo em tais circunstâncias, nesse sapatinho de japonesa?

É obvio que os discípulos precisam se reunir. E, juntos, devem ter prazer em aprender a Palavra e crescer em fé e ajuda mútua. Todavia, tal ajuntamento é apenas uma estação do caminho, não o seu projeto; é um oásis, não o objetivo da jornada; é um tempo, não é o tempo todo; é uma ajuda, não é a vida.

De minha parte quero apenas ver os discípulos de Jesus crescendo em entendimento e vida com Deus, em amizade e respeito uns para com os outros, em saúde relacional na vida e com liberdade de escolha, conforme a consciência de cada um.

O 'ajuntamento' que chamamos igreja deve ser apenas esse encontro, essa estação, esse lugar de bom ânimo e adoração.

O ideal é que tais encontros gerem amizade clara e livre, e que pela amizade as pessoas se ajudem; mas não apenas em razão de certo espírito maçônico-comunitário, conforme se vê, ou porque se deu alguma contribuição financeira no lugar.

A verdadeira igreja não tem sócios, tem apenas gente boa de Deus que se reúne e ajuda a manter tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.

Tenho pavor de comunidades! Elas são ameninantes para a alma, geram vilas de doenças, produzem inibição dos processos de individuação, e tornam os homens eternos imaturos, sempre com medo do mundo e da vida. Sem falar que em todo mundo muito pequeno, como o da 'comunidade', as doenças tendem a aumentar e a ganhar caras e contornos de perversidade travestida de piedade.

A escolha que se tem que fazer é essa: ou se quer uma 'comunidade' que existe em função de si mesma, e para dentro, ou se tem um 'caminho de discípulos', e que se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida.

No dia em que prevalecer o modelo do 'caminho', conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nós e no mundo à nossa volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas, descomplicadas e sadias.

Mas se continuar a prevalecer o modelo 'comunitário de Jerusalém', que de Jerusalém tem apenas o intimismo e o espírito sectário, não se terá jamais nada além do que se teve nesses últimos dois mil anos.

Ou seja: esse lugar de doentes presunçosos a que chamamos de 'igreja'.


Adaptado DAQUI


5 comentários:

Anônimo disse...

kkk, postamos o mesmo texto kkkk, legalllll. bjs

orvalho do ceu disse...

Olá,querida Regina
Muito bom o texto... temos muito o que rever...
Estou oferecendo um Retiro Espiritual em meu Blog... é tempo de reflexão!!!
Seja muito feliz e abençaoda!!!
Bjs de paz

René disse...

Rê,

Esta é uma bela comparação entre igreja e Igreja. Muito coerente!!!

Gostei, entre outras, de duas frases: "No caminho há de tudo. Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da existência. E Seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia entre eles" e "Em Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa 'comunidade paralela', mas no mundo real".

Ótima postagem, que, pelo visto, virou 'conspiração', pela revelação, ao mesmo tempo, do mesmo texto pra você, pra Dri e pro Cláudio! Sinal da importância desta palavra!

O&A!!!

MAURO disse...

Amei seu texto! muito esclarecedor e profundo nas reflexões sobre a igreja de Cristo.

Regina Farias disse...

Olá, minha gente:

Pegando carona no que diz o René, creio que postarmos o mesmo texto simultaneamente, reflete essa nossa ânsia em ver outras pessoas libertas, assim como fomos, dessa droga que causa terrível dependência chamada religião.

Como toda droga, ela produz efeitos nocivos agindo violentamente no nosso ser com suas reações adversas:

Para uns, é algo profundamente opressor, que angustia, que faz sofrer, que inibe, que desanima, que mina gradativamente a alegria, a liberdade, a naturalidade, a VIDA.

Para outros, ela funciona como algo mecânico, repetitivo, vazio, obrigatório e igualmente sem VIDA.

E, para alguns, é alienante, uma viagem, um ópio, uma overdose supostamente divina e sobrenatural que nada tem a ver com a existência do cotidiano e por isso, uma vida SEM VIDA.

Ambas produzindo um doentio mundo `à parte´.

Por isso também destaco a frase:

"Em Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa 'comunidade paralela', mas no mundo real".

Abs,

R.