"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Nem de Paulo, nem de Apolo, nem de qualquer doutrina religiosa.



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A tentativa infantil de dizer que a igreja é o Corpo de Cristo, e que dessa forma, Cristo estava agindo como antes agira só que agora em Seu Corpo Comunitário, é bela mas não é verdadeira como valor absoluto.

Ora, o Pedro que recebeu a revelação é o mesmo que recebeu a repreensão: Arreda, Satanás! (Mt 16). Aliás, leio um monte de coisas pessoais de Paulo, Pedro, João, Tiago, Barnabé e outros... E  penso: "Puxa, que bobagem!"

Vistas pelo espírito do Evangelho muitas das ações, emoções, atitudes e decisões deles são passíveis de observação em amor, como Paulo fez em relação a Pedro e Barnabé.

Lutero teve problemas com a Epístola de Tiago e brigou com ela até o fim. E negou-se a aceitá-la como totalmente inspirada. E por que? É que ele tinha em mente um valor maior do Evangelho - a salvação na Graça e pela fé - e como não conseguiu fazer a "síntese" de Tiago com o Evangelho, ele, coerentemente, deixou Tiago de fora.

Já outros - os criadores de doutrinas - "aceitam tudo" que está lá escrito, e fazem sua “teologia sistemática” acerca da Escritura, “discordando” de modo ortodoxo com tudo, deixando O EVANGELHO de fora. Em vez de dizerem "concordo" ou "não concordo"; "entendo" ou "não entendo", como fez Lutero, criaram um “Talmude Cristão”.

O que será que Jesus tinha em mente quando disse aos seus discípulos que permanecessem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder?

Na minha opinião, Ele esperava que tudo quanto Ele havia dito antes acerca de como se deveria proceder, de cidade em cidade, fosse, agora, não mais treinado, como antes Ele os fizera experimentar - Mateus e Lucas narram esse eventos preparatórios - mas sim, que agora, tudo aquilo fosse vivido como uma ação contínua, num fluxo ininterrupto, num vai e vem constante, e como um poder que nunca tivesse um trono, nem uma cidade santa, nem um vaticano, nem um centro de poder.

Tudo o que Jesus queria era que os discípulos continuassem discípulos e que os apóstolos fossem os servos de todos; sem haver nem alguém maior, e, muito menos, um lugar mais santo ou um centro de poder.

Eu vejo Paulo sendo acusado de ter criado o cristianismo. Que terrível acusação!

Não, não acusem Paulo disso. Pode-se dizer que dele vieram as elaborações e as conclusões “teológicas” acerca do significado daquilo que entre eles havia acontecido como fato histórico, mas que não tinha ainda tido sua síntese reflexiva e aplicativa feita por ninguém antes. Os apóstolos pregavam a salvação no nome de Jesus, mas não sabiam das implicações mais profundas da fé nem tampouco acerca da desconstrução religiosa que tal fé, sendo discernida, provocaria.

Acusem sim os “pais da igreja” e seus “mestres” de haverem feito doutrinas sobre as afirmações de Paulo, e de terem usado suas revelações acerca do “mistério antes oculto, agora, porém, revelado de uma vez por todas”, em um pacote de doutrinas, e que vieram a moldar o pensar do cristianismo, embora, a prática religiosa posterior dos cristãos, seja tão somente filha do casamento da igreja de Jerusalém com as autoridades do templo e com o legalismo dos fariseus “convertidos à fé”.

Jesus esperava que o poder do Espírito os fizesse sair em desassombro pelo mundo, pregando a Palavra da Boa Nova, ensinando singelamente os discípulos a serem de Jesus em suas próprias casas e culturas. Desse modo, se teria sempre um movimento hebreu, crescente, progressivo, livre, levado pelo vento, guiado pelo Espírito, e completamente semelhante ao que eles haviam vivido com Jesus durante o Caminho, naqueles três anos de estrada que construíram o Evangelho ao ar livre, nas praias da Galiléia, nos desertos da Judéia, nas passagens por Samaria, nas terras de Decápolis e nas regiões onde os cachorrinhos, debaixo da mesa, aguardavam as migalhas que poderiam saciar a fome de toda a terra.

Alguém, com razão, diria que tal projeto não seria possível, visto que ninguém consegue viver sem um centro de poder. Entretanto, parece que ainda não se discerniu que o convite de Jesus é contrário a toda lógica de poder e não propõe nada que não seja Hoje, e que não obriga a ninguém a pavimentar o futuro de Deus na Terra mediante a construção de algo duradouro.

Para Jesus o algo duradouro era justamente aquilo que não se poderia pegar, nem fixar, nem pontuar, nem ser objeto de vistas turísticas, dada a sua impermanência num chão marcado pelas urinas dos mandões. Ele esperava que os discípulos fossem como o Mestre, e que aqueles anos de Caminho não ficassem cristalizados nas páginas dos registros dos evangelhos, mas que se tornassem um modo de ser de seus discípulos.

Jesus não era pragmático. Se o fosse, teria logo se mudado para Roma, ou teria aceitado o convite dos gregos, conforme João 12. Se Jesus fosse pragmático jamais teríamos o Evangelho. Isso porque o Evangelho propõe o Caminho Inviável, e que só se faz possível quando os homens são capazes de esquecer todas as suas formas de controle e poder.

O poder dos discípulos, paradoxalmente, está em não ter poder. E o convite para que se morra a fim que se tenha vida, é também valido para a igreja, que, ao contrário do discípulo, quer mandar na vida e controlar os homens e o mundo. Assim, pretendendo salvar a sua vida neste mundo, a igreja não só perde a sua própria vida, mas deixa de ganhar o mundo.

O que Jesus queria era uma multidão de seres-sal-e-luz se espalhando pela terra, e, se diluindo em sabores e luzes que só seriam sentidas, mas não pontuadas, jamais se tornando uma Salina ou uma Usina de luz cristã, a serem visitadas pelos curiosos.

O reino é como o fermento escondido. Até que pervade toda a massa da humanidade, sem ninguém saber como e sem que ninguém possa dar glória a mais ninguém, se não ao Pai que está nos céus.

Aliás, a proposta de Jesus é tão pouco pragmática, que a vontade de aparecer não pode resisti-la. O sal, por exemplo, foi usado por Jesus como metáfora desse desaparecimento da igreja na terra. Tudo ao que Ele associa a metáfora do sal é ao sabor, e nada mais. O sal tem que ter sabor, se não já não presta para nada. E para que o sal salgue e dê sabor, de fato, ele tem que se dissolver nos elementos que recebem o seu benefício. O sal só salga quando morre como sal visível e se torna apenas gosto, presença, realidade, inescusável benefício, embora ninguém possa dizer onde ele está, podendo apenas dizer: ele está na panela. Mas onde?

Já a Luz do mundo—vós sois!—, deveria ser a ação contínua da bondade e da misericórdia, de modo completamente discreto, porém pleno de efetividade; de tal modo que os “de fora” é que ao receberem os benefícios da luz, discirnam-na como boas obras, e, assim, eles mesmos, agradeçam a Deus pelos filhos da misericórdia que Ele espalhou pela terra.

O que Jesus propõe como simplicidade total, entretanto, logo deu lugar às complexidades regimentais e aos centros de poder. Mesmo dizendo “tal não é entre vós” - referindo ao poder de governar dos reis e autoridades - o que se criou desde bem logo foi aquilo que era comum, não o que era completamente incomum.

“O meu reino, agora, não é deste mundo”, os fez pensar que aquele “agora” já havia passado, e que, “agora”, eles estavam livres para facilitar as coisas; ou seja: para complexificá-las, conforme os governos da terra, deixando de lado a leveza do caminho, e o verdadeiro espírito hebreu - andarilho, cruzador de fronteiras - e que havia sido também encarnado em Jesus.

O que estou dizendo? Que nada valeu a pena? É claro que não! O que estou dizendo é que o mundo ainda não acabou, e que a cada nova geração os discípulos de Jesus têm, outra vez, a chance de viver o Evangelho, simples e puro, leve e livre, dissolvido em sabores sentidos, mas sem sede física de poder, sem qualquer mandão entre nós; e que a luz do mundo pode ainda brilhar no mundo, não como uma ação da igreja, mas como fruto da bondade justa e misericordiosa de cada discípulo que não queira ser um agente da igreja, mas apenas um filho do amor de Deus solto nesta terra.

E não nos reuniremos mais?—é a pergunta angustiada de alguns.

É claro que nos reuniremos sempre. Mas tais encontros não visariam centralizar as forças e organizar as ações de poder, mas apenas renovar as alegrias da fé e da esperança, fortalecer o amor, e devolver as pessoas à vida com a simplicidade do sal e da luz. Ou seja: com sabor e boas obras.

Eu sei que parece loucura para alguns, mas não nasci ontem. Conheço os mecanismos de poder dos quais a “igreja” se alimenta. E também sei que apenas um punhado mínimo de pessoas tem a coragem que o Evangelho do reino demanda que é a coragem para abrir mão do poder e para liderar pela simplicidade, sem trono a nos acolher em honras.

Quem, no entanto, tiver tal coragem da simplicidade, esse conhecerá o significado de ser discípulo de Jesus no reino deste mundo, e que é o poder que nasce da fraqueza - que, aliás, é o único poder que Jesus quer ver sendo vivido pelos Seus discípulos.


"... CADA UM VEJA COMO EDIFICA,
PORQUE NINGUÉM PODE LANÇAR OUTRO FUNDAMENTO,
ALÉM DO QUE FOI POSTO, O QUAL É JESUS CRISTO".
(1Co3.10b.11)

8 comentários:

***Adriana Rocha*** disse...

Sae de uma coisa sou tãaaaaoooo cansada dos personegns biblicos tão endeusados por crentes que agora só vejo Jesus na minha frente..
Bora em frente mulher....

Adriana disse...

Bispa,

Eu preciso surrupiar esta sua adaptação, ficou ótimo.

Que o Espirito de Cristo continue germinando esta sabedoria que vem do Alto, que a Fonte Transbordante encontre sempre uma afluente em sua alma, de forma que euzinha continue sendo abençoada por suas palavras.

Beijos e abraços reverentes

Anônimo disse...

Rê, concordo em gênero, número e grau. Esta é uma adaptação do texto do Caio? de nome "Como o Caminho do Evangelho virou cristianismo" que está em:
http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=02325

René disse...

Rê, minha linda, que bom que você voltou!!

Isso é que eu chamo de discernimento com sabedoria. A sabedoria do Espírito de Cristo.

Esta é uma descrição perfeita e exata daquilo que aprendi em anos de leitura da Palavra de Deus, junto ao Seu Espírito. É exatamente isto que o Senhor diz às pessoas, mas tem sido tão difícil que a maioria compreenda!

Todos querem "complexificar" o que é simples!

Beijo em seu coração e muita Paz!

Wendel Bernardes disse...

"O convite de Jesus é contrário a toda lógica de poder e não propõe nada que não seja Hoje, e que não obriga a ninguém a pavimentar o futuro de Deus na Terra mediante a construção de algo duradouro."

Creio assim também até porque 'construir no terreno de Deus' é algo completamente desproporcional se olharmos sob o prisma da totalidade que é esse Ser e do controle absoluto que Ele possui sobre tudo (criação) a Sua volta.
Não é figura de linguagem quando dizemos que: "O futuro a Deus pertence".

Sua postegm é ótima Rê,
vou copiá-la e lê-la com mais calma!
(vou dar uma ruminada básica, como diria o pastor JC)

Gavinhas!

Regina Farias disse...

Gente,

Desculpe a pressa, depois volto com calma. (Casa cheia rss)

Adianto que clicando em "ADAPTADO" chega-se à origem do texto rss

Beijos mil,

Rê.

Sensatez disse...

Paz Rê,
Belíssima apresentação da liberdade em Cristo,não há poder humano na igreja do Senhor,pois o poder pertence a Ele,não há hierarquia na igreja,pois todos são um na unidade do Espírito,irmãos,membros de um corpo livre e vivo,do qual Cristo e só Ele é a cabeça.

" a cada nova geração os discípulos de Jesus têm, outra vez, a chance de viver o Evangelho, simples e puro, leve e livre, dissolvido em sabores sentidos, mas sem sede física de poder, sem qualquer mandão entre nós; e que a luz do mundo pode ainda brilhar no mundo, não como uma ação da igreja, mas como fruto da bondade justa e misericordiosa de cada discípulo que não queira ser um agente da igreja, mas apenas um filho do amor de Deus solto nesta terra."
Verdades precisam ser ditas,que o Senhor te abençoe mais a cada dia!

Unknown disse...

Texto forte, direto e sem rodeios...
abraços Regina..

Bom fim de semana ai no Rio, e ótimo feriadão pá nóis de sampa rsss

bye