"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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domingo, 5 de dezembro de 2010

História do Jazz...


Escravos em campos de algodão


Aproveitando o Festival de Jazz que ora acontece em Porto de Galinhas - PE, fiz uma pequena adaptação de um texto para dar enfoque sobre a origem desse estilo musical (visto por uns como seleto). O que me fascina é a sua história, sua origem e sua trajetória; pois a mais triste ironia dessa beleza de arte extremamente sofisticada e que hoje curtimos em shows e festivais, é que ela nos foi presenteada dos guetos mais humildes e sofridos, surgindo da dor da segregação. Pérola que nasce da estupidez do próprio homem contra seu semelhante. E o melhor de tudo neste evento é que a festa é na praia e para todos, o que esclarece o equívoco de que jazz e blues é para uma minoria privilegiada.


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Por volta de 1808 o tráfico de escravos no Atlântico trouxe aproximadamente meio milhão de africanos aos Estados Unidos em grande quantidade para os estados do sul. Grande parte dos escravos veio do oeste da África trazendo fortes tradições musicais.

Festas de abundância com danças africanas, ao som de tambores, eram organizadas aos domingos em Place Congo, New Orleans, até 1843, sendo como uma festa similar em New Orleans e New York.

Escravos da mesma tribo eram separados para evitar formações de revolta. E, pela mesma razão, nos estados da Geórgia e Mississipi, não era permitido aos escravos a utilização de tambores ou instrumentos de sopro que fossem muito sonoros, pois poderiam ser usados no envio de mensagens codificadas.

Entretanto, muitos fizeram seus próprios instrumentos com materiais disponíveis, e a maioria dos chefes das plantações incentivou o canto para que fosse mantida a confiança do grupo. A música africana foi altamente funcional, tanto para o trabalho quanto para os ritos.

As work songs e field hollers incorporaram um estilo que poderia ser ainda encontrado em penitenciárias dos anos 60, e em um caso eram parecidas com uma canção nativa ainda utilizada em Senegal.

No porto de New Orleans, estivadores negros ficaram famosos pelas suas canções de trabalho. Essas canções mostravam complexidade rítmica com características de polirrítmica do jazz. Na tradição africana eles tinham uma linha melódica e com o padrão pergunta e resposta, contudo, sem o conceito de harmonia do Ocidente. O ritmo refletido no padrão africano da fala e o sistema tonal sistema africano levaram às blue notes do jazz.

No começo do século XIX, um número crescente de músicos negros aprendia a tocar instrumentos do ocidente, particularmente o violino, provendo entretenimento para os chefes das plantações e aumentando o valor de venda daqueles que ainda eram escravos. Conforme aprendiam a música de dança europeia, eles parodiavam as músicas nas suas próprias danças cakewalk. Por sua vez, apresentadores dos minstrel show, euro-americanos com blackface, estilo de maquiagem usado para sátira, popularizavam tal música internacional, a qual era combinação de síncopas com acompanhamento harmônico europeu.

Entre as inúmeras influências que provocou no mundo inteiro tem uma que veio dos negros que frequentavam as igrejas. Eles aprenderam o estilo harmônico dos hinos e os adaptavam em spirituals. As origens do blues não estão registradas em documentos, entretanto, elas podem ser vistas como contemporâneas dos negro spirituals.

Conforme pesquisadores, há uma incrível similaridade dos instrumentos, música e função social dos griots da savana do oeste africano, sob influência Islâmica, assim como uma complexidade rítmica da orquestra de tambores da costa da floresta temperada, que sobreviveram relativamente intacta no Haiti e outras partes do oeste das Índias mas não era farta nos Estados Unidos. Sugere-se ainda que a música de cordas do interior sudanês se adaptou melhor com a música popular e baladas narrativas, dos ingleses e dos donos de escravos scots-irish e influenciaram tanto o jazz como o blues.

A abolição da escravidão levou a novas oportunidades para a educação dos afro-americanos que eram livres, mas a segregação racial ainda limitava muito o acesso ao mercado de trabalho. Havia exceções: ser professor, pregador ou músico. E muitos obtinham educação musical. Euro-americanos costumavam ver os músicos negros como provedores de entretenimento de "classe-inferior" nas danças e nos minstrel shows, e mais tarde, o vaudeville. Várias bandas marciais foram formadas, aproveitando a disponibilidade dos instrumentos usados nas bandas do exército.

Um pianista negro não podia ser aceito em salas de concertos, mas poderia ser encontrado tocando na igreja ou tinham oportunidades de trabalho em bares, clubes e bordéis de zonas de prostituição, sendo que, aqueles que liam partitura eram chamados de "professores" enquanto os outros eram tocadores(ticklers) que tocavam marfim.

Nova Orleãs tinha se tornado uma mistura de raças. Os franco-criolos aproveitavam muitas das oportunidades dos brancos, e grupos de negros participavam em músicas clássicas e em óperas da cidade. Entretanto, a lei da segregação, que entrou em vigor no ano de 1894, classificou a população afro-crioula como "negra", colocando as duas comunidades em uma só definição.

Desde 1857, existia prostituição legalizada na área conhecida como "The Tenderloin", e em 1897 essa zona de meretrício, próximo a Basin Street, ficou conhecida como Storyville, lendário provedor de emprego para os talentos do jazz que surgia.







Em tempo:
O prefeito de New Orleans enviou aos organizadores do evento a chave da cidade, de modo que Porto de Galinhas passa a se chamar New Orleans durante a realização do evento que homenageia os 111 anos do band leader Duke Ellington, (foto abaixo) uma das maiores influências do jazz desde 1920.







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