"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

O AMOR que neutraliza o medo


Vou confessar...
Eu era uma pessoa muito medrosa.


Quem me conhece na intimidade vai dizer que eu estou blefando, fazendo tipo ou coisa do gênero.


Sim, porque eu sempre fui uma pessoa decidida, antenada, atuante.


Uma mulher bem-resolvida, como se dizia no final dos anos oitenta.

Meu marido viajava com frequência e por força do trabalho passava mais de um mês longe de casa, então eu assumia as rédeas de tudo com muita propriedade e não preciso de nenhuma falsa modéstia para falar dos fatos como eles são. As pessoas se admiravam porque eu tinha total autonomia e liberdade para tomar decisões até mesmo em assuntos ligados ao trabalho dele.

E não é auto-promoção. É só para o leitor se situar rs.

Enfim...

Uma fortaleza por fora e um prato de papa por dentro.

Decidida e emotiva, eu tinha um medo que não tem como explicar. Sei lá, um medo existencial, um mix de insegurança e ansiedade aliado a um vazio inquietante, que vivia em intermitente confronto com o meu lado contestador, realizador, ativo, ativista e ativador.

O paradoxo está no repúdio que eu sempre tive a superstições e crendices, coisa que herdei de maneira forte do meu pai - portanto meu medo não era exatamente nessa esfera. Era uma espécie de alerta, como se o meu cérebro estivesse constantemente com a luz vermelha acesa, deixando-me estressada e infeliz sem nenhum motivo aparente para estar infeliz, muito pelo contrário. Então eu prontamente dissimulava sufocando aquela sensação injusta e inapropriada que não condizia com a minha vida real.

De imaginação extremamente fértil, fazia altas viagens assustadas e assustadoras enquanto a adrenalina liberada a todo vapor me colocava em alerta como se em constante estado inicial de fuga ao primeiro sinal de perigo.

Embora sendo fascinada pelo comportamento humano, mas sem querer me aprofundar em meu próprio perfil psicológico, eu sempre soube que esse medo maluco tinha tudo a ver com a educação repressora que recebi e, resumindo, devo dizer que tal medo associado à ansiedade existencial findou por me aprisionar na tal Síndrome do Pânico que me maltratou durante anos. (Já falei sobre isso em outras postagens aqui e recentemente em “O Pão da Vida”)

Foi então que conheci o Amor do Pai, passando a entender o que significa confiar e esperar em Deus como revelação em meu coração.
Esperar e confiar sem angústia, sem ânsia, sem aquele medo sinistro.

E o mais maravilhoso é que além de nos vermos libertos de todas essas mazelas, aprendemos que esperar e confiar não nos dá idéia de algo estático, apático, parado, conformista, e sim de ação, de movimento, de atitude!

Há uma incrível dinâmica, pois quando se crê agindo, ainda que não esteja/seja satisfeita a minha vontade primária, vão surgindo naturalmente os mecanismos necessários durante aquela espera confiante e que promovem toda uma sequência harmoniosa como ilustra o profeta com a máxima perfeição:

“Os que esperam no SENHOR renovam as suas forças,
sobem com asas como águias, correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam.”
(Is 40.31)

Existe ilustração com mais AÇÃO do que essa?

É nessa confiança e nessa espera que trocamos nossas fraquezas - desânimo - pela força que vem do Pai.

Essa confiança se apóia no fato de que a força humana é insuficiente para enfrentar os desafios da vida e que só NELE encontramos a fortaleza.

É dessa dependência – e do reconhecimento absoluto dela – que Deus se agrada.

É nisso que reside o temor de Deus, o qual muitos de nós confundimos com medo.

E foi exatamente assim que aconteceu comigo, pois antes de conhecer a verdade que liberta, tinha com Deus uma espécie de ligação neurotizada, na qual ao mesmo tempo em que O queria, fugia de um deus-bicho-papão numa versão para “adultos”.

Mas de onde vem esse medo?

Não tenho a menor dúvida que inicialmente devido a um equivocado sistema paternal repressor, ele surge ao longo da vida em outras nuances sutis e gradativas - e com muita força - associado a um conjunto de regras externas que nos cobram certas posturas e principalmente através da rigidez religiosa que se infiltra sutilmente no nosso ser.

“Ora, o medo produz tormento;
logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.”
(1Jo 4.18 b)

Minha relação com Deus era assim: atormentada, inquieta, neurótica.

Antes Ele era o MEU SENHOR que podia ser meu carrasco e pesar a mão a qualquer instante.

Hoje Ele é simplesmente o Autor da minha vida... O Senhor que é PAI.

Que consola, que põe no colo, que aconselha, que disciplina, que orienta, enfim, que exerce todas as funções de um Pai Perfeito.

E mesmo que não seja mais necessário esse pôr no colo daquelas primeiras horas infantis de mais fragilidade emocional, de melindres, de manha rss... Mesmo assim Ele se faz presente sempre! Na sua vida, na sua consciência, no seu coração, no seu SER.

Mas como saber? Você simplesmente sabe.

Sabe que foi edificado na Rocha.

Eu confundia TEMOR com MEDO, quando na verdade esse temor está relacionado à reverência e ao respeito por um Pai que é Soberano, enquanto que o medo indica falta de confiança e, consequentemente, falta de intimidade com um Pai amoroso que só quer um relacionamento de intimidade com o filho, transformando o seu coração para que ele vá bem na vida.

Deus quer substituir no nosso coração, o medo e a opressão pelo seu AMOR, dando-nos uma nova vida.

Eis a Sua proposta irrecusável: um coração pulsante, um coração de carne!

Em troca daquele empedrado pelas vicissitudes da vida...


“No amor não existe medo. Antes, o perfeito amor lança fora o medo”.
(1Jo 4.18 a)

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