"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

Translate

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A MPB nossa de cada dia dá-nos hoje


Era pra ser uma resposta a algumas cartas. Mas são muitas as cartas criticando-me por gostar de MPB.


Resolvi escrever um artigo... assim é melhor... respondo as cartas e ainda escrevo um pouco daquilo que gosto e penso.

Sinceramente, não dá pra entender o ódio mortal que alguns cristãos sentem em relação a nossa Musica Popular Brasileira. Ou melhor, dá pra entender sim... esse pensamento é o simples reflexo de um povo que foi “colonizado” espiritualmente por uma mentalidade estadunidense-européia e hoje sofre nas mãos dos “brasileiríssimos” apóstolos da “teologia do gueto” (aquela que afirma que tudo de fora é do diabo e tudo de “dentro” é de Deus).

Quanto à música, então, nem se fala! Música que não louva a Deus, é do diabo!

Meu Deus!!! De onde tiraram essa idéia? Onde ficam a poesia, a arte, a beleza, o romantismo? Será que estamos mesmo fadados a sermos reféns das rádios evangélicas e suas “maravilhosas” canções românticas? Será que só poderemos ouvir a “poesia” dos mantras repetitivos e infindáveis? Não poderemos mais ouvir os nossos chorinhos lindos e estaremos à mercê dos chorões de auditório? Será que o meu Brasil-brasileiro-mulato-branco-moreno-e-negro cairá sob a bandeira de Israel e seus shophares mágicos?

A implicância com a música brasileira ao meu ver tem dois motivos, ambos impregnados na mente de nosso povo e já considerados como “doutrina bíblica” por muitos.

O primeiro motivo é por ser... “música”. Como assim?

Há algum tempo atrás surgiu uma “doutrina”, dessas que surgem de vez em quando e fazem aquele estrago imenso, onde se dizia que Lúcifer era “ministro de louvor” no céu, daí entender tanto de música e saber usar a seu favor essa maravilhosa arte. Logo, a música que não era pra louvar a Deus, só poderia ter outra fonte: o gramunhão! Daí rejeita-se QUALQUER coisa que não tenha o rótulo de “evangélico” e, mais recentemente, o melhor dos rótulos: “gospel” (assim acaba de vez qualquer tentativa de ser brasileiro).

Essa idéia errônea atribui mais poder ao diabo do que a Deus. Ora, Deus é criador de tudo e tudo o que é realmente belo vem dEle, é o que se chama na teologia de “graça comum” (é claro que o conceito de graça comum é bem mais amplo, mas fiquemos aqui na beleza...). Não há beleza que não venha de Deus. Lembro-me de uma música do MILAD, em seu álbum “Retratos de Vida”. A música chama-se “Platéia” (Toninho Zemuner – Alexandre Rocha) e diz:

“Pra começo de história
Entre acordes e tons,
Onde Chicos e Miltons
Fazem os sons...
(...)
Ah! Se todos soubessem
De onde vêm esses dons,
(...)
A fonte é Deus,
Essa fonte de vida...”

Essa “teologia” ainda foi mais fomentada quando Raul Seixas deslanchou com “Rock do Diabo”, onde afirmava que “o diabo é o pai do rock”. Quanta ingenuidade a nossa!!! Estamos fazendo com a música a mesma coisa que fizemos com o arco-íris, entregando coisas divinas ao movimento gay e à Nova Era como se realmente o arco-íris fosse um sinal diabólico, totalmente contrário aos planos de Deus. Ignorância! Ignorância Bíblica! A única coisa que o diabo conseguiu ser pai é da mentira (João 8.44) e é exatamente em sua especialidade que ele coloca na mente dos cristãos que tudo o que não é da IGREJA não é de DEUS.

Mas isso também depende dos “frutos” (entenda-se aqui frutos como propaganda, marketing, e principalmente LUCRO). Até pouco tempo atrás futebol era uma coisa do diabo. Isso até os mais famosos jogadores se dizerem evangélicos e aí os pastores, ávidos por aparecerem na mídia ao lado de seus fiéis... sacralizaram o que até então era diabólico. Hoje ninguém mais comenta que futebol é do diabo e que a bola é o “ovo do capeta”. Deixou de ser há muito tempo, desde quando começou a trazer frutos e dividendos pro “Reino”.

Em tempo: não sou contra o futebol. Pelo contrário!!! Sofro como flamenguista; gosto de bater uma pelada com amigos; de ir ao Maracanã quando dá tempo torcer pro Mengão; em épocas de copa do mundo, paro pra assistir todos os jogos do Brasil, e como bom brasileiro estou torcendo desde já pelo hexa da nossa seleção.

Pois bem, o diabo nunca foi ministro de louvor no céu (só se isso fizer parte de algum livro apócrifo), e o máximo que ele pode fazer é deturpar aquilo que Deus criou, mas nunca ser pai de alguma coisa. A música é um presente de Deus à humanidade, que pode ser utilizada em seu louvor, como também simplesmente para demonstrar sentimentos belos como o amor, a saudade, o carinho, sonhos, etc.

Essa idéia faz com que a música seja olhada como a pior arte, arte exclusiva de Satanás. Não vejo ninguém recriminando um filme, uma poesia, uma escultura, uma exposição de quadros... tudo isso é arte. Só não pode haver música!!! Se houver música, na cabeça de muitos, a coisa passa a ter um outro dono: o diabo. Todas as outras artes podem ser apreciadas, sem problema algum, menos a música. Santa ignorância! Santa hipocrisia!

É claro (e é aqui que está o cerne da questão) que há a boa música e a música ruim. Não dá pra ter prazer ouvindo “Vem Tchutchuca, vem aqui pro seu tigrão” ou “Hoje é festa lá no meu apê... vai rolar bundalelê”. Mas não podemos julgar o todo pela parte ruim. Há música ruim na MPB? Claro que há! O que faço? Não ouço! É simples... Há música boa na MPB? Claro que há! O que faço? Ouço... e louvo a Deus por ter dado ao homem (mesmo o que ainda não O conhece pessoalmente) essa capacidade “divina” de harmonizar letra e música, verbo e melodia... isso é dom de Deus!!! Não vem do diabo, como muitos querem.

Experimente ouvir de coração aberto “Toada” (Boca Livre); “Sapato Velho” (Roupa Nova); “Aquarela” (Toquinho); “Eu Sei que Vou Te Amar” (Vinícius); “Sucedeu Assim” (Tom Jobim); “Vieste” (Ivan Lins) e muitas outras músicas lindas de nossa MPB e você entenderá o que estou dizendo...

E outra questão precisa ser levantada. Há música boa no meio evangélico? Claro que há! O que faço? Canto, toco, ensino nas igrejas, etc... Há muita porcaria no meio evangélico? Claro que há! O que faço? Não ouço e nem recomendo. É simples também! E ainda cabe alertar o povo de Deus contra o engano desses “senhores de gravadoras” que comandam o mercado gospel e enfiam goela abaixo os seus queridinhos e suas músicas “de Deus”.

Portanto, antes de “julgarmos” os de fora, julguemos a nós mesmos. Nossa qualidade musical, conteúdo, as maracutaias no meio “gospel”, a máfia das rádios evangélicas e de seus donos-sempre-candidatos-políticos, o uso do nome de Deus em vão para enriquecer pilantras e enganar o povo, etc...

A segunda questão que creio ser fundamental para a não aceitação da MPB por parte de alguns evangélicos é o simples fato de ser... Brasileira! A igreja evangélica no Brasil tem a péssima mania de só considerar sacro o que “vem de fora”. Há a rejeição latente aos ritmos brasileiros, a miscelânea cultural que é a nossa pátria tupiniquim.

Instrumentos de origem africana são quase sempre associados aos cultos do candomblé, a riqueza de sons e ritmos é sempre associada ao folclore, ao popular, e a arte popular é profana... indigna de se cantar “pra Deus”.

É comum em casamentos, processionais, recessionais, e outros momentos “instrumentais” em igrejas as grandes composições de Bach, Beethoven, Haendel... mas não há espaço pra Carlos Gomes, Villa-Lobos, Waldemar Henrique, Radamés Gnattali, entre outros...

A música genuinamente brasileira é sempre olhada de lado. Bom mesmo é o que vem de fora... que nos sirvam de provas os grandes hits do “louvor brasileiro” que em sua maior parte é composta de versões do Hosanna Music, Hilsong Church, Michael W. Smith, etc. Não estou dizendo que isso não possa acontecer. Há músicas boas que podem, e devem ser traduzidas, mas por que tanto preconceito com o que vem de dentro de nosso solo, da mãe gentil e pátria amada? Por que João Alexandre, Jorge Camargo, Nelson Bomilcar, Carlos Sider, Carlinhos Veiga, Atilano Muradas, Arlindo Lima, Sérgio e Marivone (Baixo & Voz), Gláucia Carvalho e outros tantos não são conhecidos da grande maioria dos evangélicos brasileiros? Falta de talento e inspiração? Não!!! Falta de vergonha das nossas rádios e dos mega-empresários da fé. Falta de vergonha de uma igreja que nunca chegou a ser brasileira de fato.

Nossas raízes européias e estadunidenses devem ser respeitadas. Foram eles que atravessaram mares para nos pregar o Evangelho da graça. Mas somos brasileiros. Em nosso corpo e em nossa mente há uma ginga inegável, um requebrar sadio que não se contem ao som dos tambores, atabaques, violas, violões, cavaquinhos, e tantos outros instrumentos.

Voltando ao nosso assunto (MPB). A lógica que cabe no meio “gospel” também serve para a nossa cultura. Somos sempre tentados a não valorizar o que temos de bom. Temos poetas maravilhosos, compositores fenomenais em nossa MPB e em nome de uma fé totalmente equivocada desperdiçamos a chance de crescermos como brasileiros, como músicos, como poetas ao nos recusarmos a ouvir o que há de bom do lado “de fora” do nosso gueto.

Que reconheçamos em todas as coisas belas, e até mesmo na boa MPB, traços do criador, resquícios da imagem de Deus ali pulsantes em alguém criado à sua imagem e semelhança. Creio firmemente que Deus não punirá aqueles que ouvem a boa música brasileira, européia, estadunidense, africana... Ele ainda é Senhor de todas as coisas, mesmo que muitos dos que se dizem seus “filhos” não queiram...


José Barbosa Junior
Crer e Pensar

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O AMOR é o dom maior

Jesus pôs abaixo todas as regras e normas judaicas baseadas em tradições próprias e que eram opostas à Sua proposta.

Jesus não se limitou a um determinado grupo, a uma facção.

Aliás, Jesus abomina facção, grupinho, irmandade.

Ele manda fugir do homem faccioso.
Ele, que se enfiou no meio de publicanos e prostitutas.
Ele, que manda o mala sedento descer da árvore convidando-se pra comer em sua casa.
Ele, que rompendo com os moldes culturais da época, abordou uma mulher que já tivera cinco maridos e que, além de samaritana, ainda vivia com um homem que nem era seu marido!
Ele, que fugiu dos grupinhos religiosos cheios de si e deu-se às multidões, escandaliza dizendo quem são realmente os seus:

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns com os outros” (Jo 13.35)

Observe que Ele disse uns com os outros!

Jesus não disse: uns com os outros da sua turma de faculdade.
Não disse: uns com os outros do seu setor de trabalho.
Também não disse: uns com os outros que freqüentam os mesmos bancos da denominação que você; nem tampouco disse: uns com os outros que te aplaudem, te agradam, te ajudam, te bajulam.

Ele disse simplesmente: Uns com os outros!

Tem uma parábola que ilustra muito claramente quem é o nosso irmão: a do clássico bom samaritano! (Lc 10: 25a37)
O intérprete da lei (ou seja, o cara!) pergunta a Jesus como conseguir a Vida Eterna e o mesmo sabiamente responde com outra pergunta, (vers 26) forçando-o a dizer:

“Amarás o SENHOR teu Deus, de todo coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Ver Dt 6.5 – Lv 19.18)

E Jesus disse: “respondeste corretamente; faze isso e viverás”. (Ver Lv 18.5)

A coisa pegou quando o doutor da lei perguntou:
- “E quem é o meu próximo?”

É quando Jesus coloca um personagem estranho em sua historinha, um personagem samaritano que os judeus odiavam tanto que se esqueceram de exercitar o mais importante para Deus: O AMOR.

Para Jesus não importa: quem tem amor no coração – verdadeiramente – vê o outro como seu semelhante e terá cuidado especial com ele como se fosse consigo mesmo.
O tal escriba era o cara , sabia tudo e mais alguma coisa, na ponta da língua, mas seu coração cheio de soberba o impedia de entender a essência do mandamento principal.
Por isso Jesus já os chamava de hipócritas em outras ocasiões. (Mt 15:7.8.9)

Imagine só o queixo caído do intérprete da Lei quando Jesus finaliza:

“Vai e procede tu de igual modo” (v.37)

Cheios de si, eles não conseguiam entender que o que Jesus queria deles era o coração puro disposto a amar incondicionalmente e não regras impostas pela tradição adquirida por interpretações próprias e colocadas acima das Escrituras, “invalidando a Palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes”. (Mc 7.13)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

TRANSTORNAR PARA TRANSFORMAR

Além de não conformar-se, isto é, ajustar-se aos padrões vigentes, o Evangelho do Reino provoca transformações profundas, tanto no indivíduo, quanto na sociedade.

No indivíduo, esta transformação começa pela renovação do seu entendimento, conforme lemos em Romanos 12:2. Portanto, parte do subjetivo. Sua cosmovisão é radicalmente afetada. A maneira como se vê, e como enxerga a realidade à sua volta muda drasticamente.

Ele passa a perceber-se como um pecador carente da misericórdia divina. Há uma expansão da sua consciência (Metanóia no grego , ou arrependimento em português). Sua avaliação de si mesmo e do mundo passa a estar em linha com a avaliação feita por Deus. Suas opiniões particulares se rendem à verdade revelada na Palavra.

A introspecção inicial dá lugar a uma nova cosmovisão. Embora parta do subjetivo, não pára aí. Ao sentir-se transformado por Deus, o indivíduo é comissionado e desafiado a trabalhar pela transformação do mundo. Daí o caráter objetivo e abrangente da transformação proposta pelo Evangelho.

A injustiça imperante na sociedade começa a causar-lhe náuseas, porque seu coração agora bate no compasso do coração de Deus. E ele não se contenta a ser um mero espectador da história, mas almeja ser um agente subversivo do Reino de Deus.

O Espírito do Senhor que passa a habitar nele, o impulsiona a trabalhar pela restauração dos lugares há muito devastados pelo crime, pela injustiça social, pela corrupção, pela promiscuidade, e por tudo o que degenera o ser humano (Isaías 61:4).

A transformação desejada é precedida por um TRANSTORNO.

Transtornar é bagunçar o que está arrumado, para então estabelecer um novo padrão. Para dar uma faxina nada casa, é imprescindível que se tire as coisas do lugar.

Os discípulos de Jesus foram acusados de transtornar o mundo (At.17:6). Onde o Evangelho chegava, havia sempre uma desordem inicial, um alvoroço, como o que aconteceu em Éfeso, quando os comerciantes amargaram um enorme prejuízo por conta do culto a deusa Diana ter sido desacreditado.

Como já devem ter percebido, gosto muito de estudar a origem etimológica das palavras.

Algumas traduções trazem o vocábulo “alvoroço” em vez de “transtorno”.
A palavra “alvoroço”, tem a mesma origem de “alvorecer”.
Quando se tocava o clarim da alvorada no acampamento do exército romano, havia um alvoroço, que logo era seguido pela ordem matinal, com todos os soldados devidamente enfileirados.

A trombeta de Deus tem sido tocada, onde quer que o Evangelho do Reino seja anunciado. O alvoroço causado pela proclamação da verdade é o prenúncio de que a aurora está prestes a raiar.

Esta transformação deve abarcar todos os campos do conhecimento humano, e todos os setores da sociedade. A cultura, a ciência, a legislação, a educação, a família, nada fica imune ao fluir do Rio de Deus. E onde quer que ele passe, tudo revive ( Ez.47:9).

A igreja de Cristo não tem o direito de represar o rio da vida. Não somos lagoas de águas paradas, infestadas de micróbios e larvas de insetos. Somos o canal por onde passam as águas do rio de Deus. Deixemos, portanto, que elas desaguem no mundo, a fim de transformá-lo.

Uma religiosidade intimista, circunscrita ao indivíduo e às suas experiências, não poderá romper com os diques. O rio de água viva prometido por Jesus, flui do nosso interior, e não em nosso interior.

O interior do homem é o ambiente de onde as águas transformadoras jorram, mas não é o ambiente onde elas devem desaguar.


(Extraído de www.genizahvirtual.com/2009/10/transtornar-para-transformar.html)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Foi a mim que fizeram"

Recebi um convite para um congresso com o tema:
“O que a igreja tem a dizer sobre sexo?”
A primeira pergunta que me veio à mente foi: a igreja de quem, qual instituição, denominação, de qual pastor, bispo, apóstolo, padre?

Daí eu pensei:
- Espera um pouco, eu também sou igreja, tenho algo a dizer! Será que lá eu poderei fazer as minhas considerações? Será que vou querer ou me sentir à vontade para isso?
Logo me veio uma resposta:
- Saberei apenas se participar!
E outra resposta me balizou pensamentos e questionamentos:
- Mesmo que me abram espaço para comentários e/ou ponderações eu não me sentirei confortável para isso.

De fato, em um congresso não conhecemos todo mundo.
Assuntos como sexo, crises domiciliares, relacionamentos, decepções, mágoas, conquistas devem ser sim discutidos, abordados, destrinchados, é verdade.

É bom saber o que os outros têm a dizer.
Mas o título me soou contraditório.
Porque a igreja tem a dizer algo. Mas para quem? Para ela mesma?
Então não pode ser congresso, conferência, algo do tipo. É um assunto intimista.
Aprendemos desde sempre que igreja é aquele lugar que nos encontramos semanalmente para orações e sermões. Mas a palavra igreja nasceu das reuniões de um povo com a mesma crença. Há uma sensação de que algo está errado. Falta alguma coisa em todo esse movimento causado pela existência da instituição.
Esse buraco aumenta a cada igreja que abre pelo mundo a fora.

Quando os primeiros cristãos começaram a se reunir havia um sentido para os ensinamentos bíblicos: “suportando-vos uns aos outros” ou “confessais as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis” e outros tantos.

Textos como esses dos livros aos Colossenses e Tiago refletem uma realidade não encontrada mais na igreja atual. Ela existia em função da intenção de dividir o pão, de ajuda mútua, de acolhimento, de sentimento comum, de igualdade e da novidade do evangelho, das boas novas.
Aqueles cristãos se reuniam em casas com simplicidade e relacionamento intenso.

Daí, falar de assuntos tão pessoais se torna um pouco mais fácil e natural.
É o caminho para a cura.
A estrutura atual reúne pessoas de todos os cantos da cidade, impossibilitando uma aproximação maior e tornando o relacionamento dependente da instituição e suas programações. Esse elo é imensamente frágil. É fácil ver pessoas se relacionando mediocremente com outras de bairros distantes. Contudo essa cultura nos impede de conhecermos nossos vizinhos, irmãos em potencial.

Há quem precise de nós debaixo do nosso nariz, seja um familiar ou um morador próximo. Mas nos esquivamos de tal relacionamento em busca do mais cômodo que tem seus intervalos durante a semana.
Não dá para ser suporte para alguém dessa forma.
O mecanismo das reuniões religiosas mais tradicionais existe em função apenas de uma coisa: a arrecadação de fundos.
Uma liturgia secular que foi criada e bem pensada para que, ao final, todos os participantes possam contribuir.
Introdução, sermão, comunhão e tudo isso apenas para a arrecadação.
O resto é adereço puro.
Momento de cânticos, avisos, participação dos fieis, entre outros.

Efésios nos ensina que Cristo nos deu dons especiais que devem ser usados para o crescimento do povo no conhecimento das promessas de Deus. Conta que Ele escolheu uns para apóstolos outros para profetas, evangelistas, pastores, mestres. A fim de que todo o corpo permaneça “bem ajustado, ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, fazendo o aumento do corpo, para a sua edificação em amor.”

O que existe hoje é uma figura de santidade conhecida e chamada de “Reverendo”. Este é o responsável pela palavra nas reuniões. É também o líder.

O texto de Efésios explica que os dons específicos existem para que a nossa fé seja uma só e para que não andemos mais como crianças, mas com maturidade no que cremos.

Sem mais, lendo as escrituras eu entendo que igreja é quando nos relacionamos com os que convivem conosco, moram próximo de nós, ricos, pobres, de diferentes classes sociais.

É quando nos importamos com as deficiências do nosso bairro, com a pobreza, com a desigualdade.

É quando promovemos algo que gera frutos, que faz a diferença.

É quando estabelecemos um relacionamento de irmãos com os mais próximos e nele possamos compartilhar de verdade, sem reservas, sem intervalos, ser suporte, crescendo juntos.

É quando na nossa casa promovemos reuniões naturais de convívio com o objetivo de amadurecimento espiritual, oração em comunidade, ajuda para os que necessitam acolhimento, multiplicação de amor, sem hora para começar nem terminar, sem oração para iniciar e finalizar.

É quando vivemos as palavras de Jesus ao dizer: Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar.

Então os bons perguntarão: "Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que vimos o senhor doente ou na cadeia e fomos visitá-lo?"

Aí o Rei responderá:
- "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos e irmãs, foi a mim que fizeram."

leo r.

sábado, 17 de outubro de 2009

O AUTOR DA VIDA



O AUTOR DA VIDA

Baseada nos textos - Artigo 35 e “Por quê?” de autoria da psicóloga Gláucia Telles em “Espaço de Vida” www.myeloma.org.br - eu gostaria de expressar algo a respeito, não como mero discurso e menos ainda tentando alcançar o jargão da psicologia nem tampouco registrar algo de cunho hermenêutico.
Longe de mim a pretensão desse último (principalmente!)
Até porque não tenho cacife pra isso e nem tenho mais a idade dos “Eliús” que cruzam nosso caminho.

Mas tenho sim, - isso eu não nego!- a empolgação típica do meu temperamento apaixonado, porém buscando alcançar a moderação que amadurece e nos leva a dosar essa coisa precipitada e visceral, abrindo os olhos para enxergar as mesmas paragens sobre outra ótica.

Ouso fazer uma breve colocação, a partir do que minha família e eu temos vivido no processo doloroso dessa doença, embora consciente de que cada um deles tem a sua particular maneira de absorver tal processo, conforme conceitos e valores próprios.
Afinal, temos por presente dos céus, o fato de sermos únicos, diferentes e especiais.
Cada qual com as suas particularidades.
(E claro, sem serem descartadas as similaridades que certamente promovem as afinidades).

Pois bem...
Nos dois textos, há pelo menos três colocações da autora que me chamaram um pouco mais a atenção e me levaram à reflexão.

Em primeiro lugar, a marcante expressão inicial no texto onde ela diz:
brincando, brincando...

Aparentemente casual... Mas uma incrível expressão que traduz de forma clara e límpida o que vivenciamos, pois era exatamente assim que acontecia em meio a questionamentos silenciosos que gritavam dentro do peito onde batia com força o coração de cada um, desde que a notícia nos veio como uma bomba!
Depois nas fases seguintes, marchando perplexos ao lado do meu irmão para realização de exames, consultas, rádios, químios, internamentos...
Exames, marcação de consultas, consultas, exames, internamentos...
Esperas... longas esperas!
Marcando cada passo no exercício de algo maravilhoso que fluía em cada momento de modo quase imperceptível : a paciência.
Na fase mais crucial, que era a da contagem dos leucócitos novinhos...
Nas noites mal dormidas que antecediam dias claros e exigiam firmeza nos pés...
A dor nos acometia de todos os lados.
A ele, fisicamente e tudo o mais na sua forma mais dorida, creio eu. Mas em silêncio desconcertante.
Em nós, era um “tudo o mais” bem mais brando. Só que... doía demais!
Mas brincávamos!
E como brincávamos!
Orávamos, chorávamos, ficávamos tristes... mas brincávamos.
Era um estranho mix de todas as emoções vividas da forma mais intensa e verdadeira como nunca havia sido antes.

É como se fosse um vendaval que ao se aproximar, se olha e se visualiza sua dimensão num turbilhão de incredulidade e assustadora vulnerabilidade, certo de alcançar seu centro sem tardar, tudo dentro de uma inexplicável seqüência que vai do choro na dificuldade ao gozo do re-equilibrar em pleno redemoinho.

E o mais interessante de todas as seqüências inexplicáveis: uma incrível aprendizagem com o próprio paciente!

E é inevitável vir à minha mente o que ousavam dizer os “amigos” de Jó acerca das razões de Deus permitir aflições, usando abundantemente o jargão teológico, MAS cruelmente distorcido e incompleto.

Então, num impulso sarcástico, eu me pergunto se o discurso mudaria com a famosa pimenta no próprio olho.

Aí vem Deus no final de toda falácia, e na Sua misericórdia e soberania, diz:

“O meu servo Jó orará por vós; porque dele aceitarei a intercessão,
para que eu não vos trate segundo a vossa loucura;
porque vós não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.
(Jó 42.8b)


Inclusive posso enxergar no livro de Jó toda a seqüência que os psicólogos chamam de sucessão de fases.
Ele ficou doente “de repente”, passou pelo famigerado “por que” amaldiçoando a própria existência, silenciou diante das falsas acusações de quem assistia confortavelmente de camarote com seus discursos dúbios e totalmente desprovidos de compaixão e esperança.
Enfim, mostrou-se tão incapaz de segurar a onda, chegando a pedir que Deus lhe tirasse a vida!

Ele teve direito a tudo isso e mais alguma coisa no que diz respeito ao sofrimento em todas as suas variáveis!
Ele tinha até uma mulher-mala! Porque – convenhamos!!! – quem tem uma mulher como aquela não precisa de inimigo!

A segunda coisa que me chama a atenção é acerca de palavras originalmente saídas da boca de Jesus e que, com o passar do tempo, recebem outras formas literárias ecoando em vozes de poetas inspirados, PORÉM com o mesmo sentido de Novidade em cura e libertação da alma.
Na representação metafórica do cálice, o que eu acho interessante é que Ele diz:
SE queres!
E em seguida, ora:
“Contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua”
Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava.

Pedir para afastar um cálice amargo é normal, é humano e ali estava explícita a perfeita humanidade de Jesus, quando Ele antevia/vivia o início da sua agonia.

A lição que eu tiro é a de uma seqüência de total e irrestrita DEPENDÊNCIA e CONFIANÇA, apesar das circunstâncias:

- “se queres...”
- “faça-se a tua vontade”
- conforto na dor.

Minha terceira e limitada abordagem é sobre a depressão, e que, segundo a psicologia diz respeito ao ápice da doença e também conforme tenho lido por aí, trata-se de uma má vontade psíquica onde o estado de esgotamento está diretamente relacionado com a afetividade.
Mas cada caso é um caso é um clichê que cabe perfeitamente aqui e eu não quero entrar no mérito da questão, por ser amplo e específico.
O que eu quero ressaltar é justamente o que disse a autora do texto em relação à aceitação, e eu entendo que não é aceitação da doença de forma passiva, mas reagindo em meio à depressão, como fato, como realidade e, acima de tudo, como fase determinante que impulsiona a cura.

O que a minha esperança sempre me diz é que, analogamente, essa depressão é o deserto, para onde levou aquele vendaval, no qual o caminho é árido e a caminhada é pra dentro de si mesmo, em meio a tempestades de areia que chacoalham e redefinem conceitos e valores, relacionamentos e decepções, medos e inseguranças, conduzindo ao oásis de uma nova existência, onde no avesso do redemoinho adquire-se nova visão.

Não aquela visão limitada e retórica dos Eliús de plantão e que se acham embaixadores de Deus, mas uma visão NOVA só alcançada pelo coração de quem foi refinado por Mãos Especiais.
Pois só um coração despedaçado conhece uma verdadeira intimidade com o Pai.
Aquela intimidade que restaura o coração imprimindo nele o Seu Amor!
E promove a paz que excede o entendimento que nos reconcilia com o mundo.
E nos acalma o coração.

Regina Farias

(Postado em http://www.myeloma.org.br/paciente.php?PAG=10&O=)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Gênesis do Apocalipse

Gênesis e Apocalipse se parecem muito, pois, tanto o princípio quanto o fim, mostram as mesmas coisas, apenas em escalas diferentes.
Deus não tem que fazer nada para julgar o mundo.
Ele criou todas as coisas como Natureza; ou seja: como aquilo que é um sistema de auto-renovação, e evolução em total adaptabilidade.
Portanto, aquilo que como natureza é vida, também pode ser morte e auto-extinção; pois, se caminha sem intervenções conscientes, vai sempre na direção da adaptação e da reinvenção de si mesma; todavia, quando sofre intervenções conscientes, como a dos humanos, o ciclo natural se quebra, e a natureza desvanece sob nossas vaidades contra ela.
E mais!
Ela se torna mutante contra nós: nascem cardos e abrolhos; e os partos se enchem de dores, o mundo se complexifica com roupas e coberturas, e o trabalho exaustivo de lavrar a terra com o suor do rosto, acabou por, no curso dos milênios, gerando o quadro anti-natural que hoje se vê.
O fato é que homem e natureza não conseguem se entender; ou melhor: o homem, de um modo geral, nunca enxergou, discerniu ou compreendeu sua dependência fundamental daquilo que se chama Natureza.
Na realidade, é que a capacidade de vê-la “de fora” — que é o que acontece com o homem —, dá a ele a falsa idéia de que como ele a enxerga, ele não faz parte dela.
Como se natureza fosse apenas a parte da criação que não manifesta consciência própria.
De fato, a Natureza não tem consciência individual.
Todavia, o sistema natural carrega um poder vital inconsciente; o qual, como sistema, é capaz tanto de acolher a harmonia, quanto também tem o poder de abalar, numa revolta que cresce na medida do agravo que contra ela é perpetrado.
No Gênesis é o encontro do homem com uma Natureza Proibida aquilo que o faz cair.
Deus não fez nada.
Foi a Natureza das coisas — “nossa” e da “natureza” —, aquilo que aconteceu como ira de Deus que julgou os homens; isso pela violação da Natureza Proibida.
Assim, foi o homem quem criou sua própria queda, quando decidiu entrar na Natureza Proibida.
Poder comer de tudo, “menos de uma Árvore”, que era de Conhecimento do Bem e do Mal, era poder perceber que há um limite do homem na própria Natureza.
O mais foi desconstrução espiritual e psicológica que a invasão- pelo homem- da Natureza Proibida, gerou tanto na Natureza quanto no próprio homem.
Pois, na mente, a Natureza das coisas é que a mente seja governada pela própria natureza da mente.
E esta é, mais que tudo, psicológica.
Dessa forma, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal não existia como tal fora do homem, mas apenas na natureza de sua própria mente.
Nesse sentido, pode-se dizer, que nós fazemos sempre, como seres que existem da e na Natureza, aquilo que será nossa própria morte e juízo, sempre que em nossa natureza mental deixamos de obedecer nossos limites na Natureza.
No Apocalipse é assim também.
A natureza faz todo o trabalho de juízo conforme o padrão contra ela praticado, apenas porque não sendo ela mesma e sem intervenções anti-naturais (coisa que somente o homem consegue realizar), sua natureza, nesse caso, é se desconstruir; posto que sua harmonia é em si tão grande, que todas as alterações que nela são feitas, acabam por se transformar numa espécie de desígnio do caos.
“Os poderes são abalados!”
No Apocalipse, a maior parte dos juízos são naturais; e são revoltas dos céus agindo na natureza aquilo que carrega a “ira do Cordeiro”.
Daí o Apocalipse ser todo marcado por catástrofes naturais no ar, no mar, nos rios, na vegetação, e mediante catástrofes que sacodem a Terra de seu eixo.
De fato três são as denúncias do Apocalipse:
. Contra os que não adoram ao Cordeiro - antes se entregam aos domínios das Bestas humanas e seus sistemas de domínio e morte.
. Contra os que escravizam e manipulam a alma dos homens
. E contra os que destroem a Terra.

O fato é que a “ira do Cordeiro” apenas deixa que os “anjos da natureza” (dos rios, dos mares, do ar, e das vegetações—todas essas menções feitas no próprio texto do Apocalipse), potencializem aquilo que sistematicamente os humanos praticam contra a Natureza; ou, no dizer bíblico mais comum, contra a criação.
Assim, no começo, a desgraça se deflagra a partir da invasão humana da Natureza Proibida. E, no final, é uma espécie de revolta sistêmica e ecológica aquilo que carrega o juízo do Cordeiro sobre a raça humana.
Foi a invasão da Natureza Proibida aquilo que tirou do homem toda a capacidade de ser parte da natureza, posto que uma vez que ele comeu da Natureza Proibida, ele foi tomado pelo surto de, como Deus, não ser parte da Natureza; e, assim, a violentou “de fora”, esquecido de que ele é Natureza também, e depende dela para ser quem é na Terra.
Desse modo, a presente devastação é apenas a manifestação com cara apocalíptica do estender de mão que um dia comeu e interveio na Natureza Proibida.
O tal Conhecimento do Bem e do Mal foi o que nos desconectou do sentido natural da vida.
Desse modo, o comer de uma árvore foi o que nos levou a destruir quase todas elas; assim como foi a invasão da Natureza Proibida aquilo que hoje nos volta como Veto da Natureza contra a presença humana na Terra.
A Natureza está gemendo.
Fenômenos como o Tsunami e o Katrina, são apenas os primeiros espasmos de um parto que a Natureza não sabe como evitar, pois, esse filho ela quer abortar.
Jesus chamou isto de “princípio das dores”.
E, sem dúvida, não havendo um arrependimento em relação a Deus, ao que o homem faz ao homem, e quanto ao que ele mesmo faz à Natureza, o resultado inevitável, sem mão divina, mas apenas como conseqüência do homem ser como ele é —, é o próprio juízo que hoje já todos vislumbram.



(extraído de www.caiofabio.com)