"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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segunda-feira, 20 de abril de 2009

O JUGO

JUGO (s.m. peça de madeira pesada também chamada de canga, utilizada para encaixar-se por cima do pescoço de dois animais - em geral dois bois- e ligada a um arado ou a um carro.)

O jugo -ou canga- era um arreio duplo em que se colocavam dois animais. Geralmente um dos lados era maior e destinado a um animal mais forte e mais experiente. O lado menor era usado por um animal em treinamento.

No AT, era usado como figura de linguagem simbolizando a escravidão e a opressão. Entendo, portanto, que o mais forte e mais experiente, era representado pelo poderoso sistema político-religioso que comandava e treinava as pessoas escravizadas a fazerem exatamente como lhes era ordenado.

No NT, Jesus alerta-nos sobre o jugo (canga) que líderes de sistemas religiosos colocam sobre as pessoas, pesando os ombros desses “animais em treinamento” que em meio a um longo processo de escravidão, passam a viver debaixo de suas regras e legalismos.

Em um rico jogo de linguagem Jesus define o jugo da lei como pesado e difícil de carregar, oferecendo o próprio jugo por ser fácil de suportar e nele se encontrar descanso, paz, leveza, plenitude. Pois no jugo de Jesus, somos serenos e confiantes.

O que acontece é que ainda nos dias de hoje a coisa se repete e nos deparamos a todo instante com líderes presunçosos,

- desfazendo o escândalo da Cruz;
- insistindo em circuncidar os mais fracos na fé;
- colocando canga – jugo - em seus tolos e fiéis seguidores.

Cego guiando cego, caindo ambos no abismo do conflito e da angústia que embaçam a visão, distanciando-se cada vez mais da alegria da salvação; e com o coração tão embotado de legalismos e crendices religiosas, que não conseguem enxergar as palavras de alento de um Jesus amoroso que anseia por nos embalar em seus braços e segurar a nossa onda dizendo em verdadeira declaração de amor:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados (oprimidos),
e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração;
e achareis descanso para a vossa alma.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
(cf Mt 11: 28 a 30)

E apenas a experiência da Graça nos oferece esse jugo suave, pois estando na Graça a vida se torna em nós, plena, rica e abundante, independentemente das circunstâncias.

Em seu ministério, Paulo definiu de modo perfeito o verdadeiro perfil daquele que vive na Graça mesmo em meio à adversidade:

“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos.” (cf 2Co 4: 8 e 9)

Ou seja, vida prática e mente lúcida! Como diria ele: sadios na fé!
Na Graça, ninguém passa a um estado de alienação, de viagem, de falta de senso.
As atribulações do dia-a-dia são as mesmas, mas o nosso coração não está mais angustiado; nem mesmo a perplexidade diante de certos comportamentos nos tira a esperança e o ânimo de seguir acreditando; pode até haver perseguição, mas ela não nos impede de ir adiante e até pode nos abater, mas nunca nos destruir, pois sabemos Quem nos ampara.
Havendo portanto, no coração, uma quietude, uma paz que excede todo o entendimento.

Por outro lado, as pessoas estão tão escravizadas, tão presas ao regime religioso, suas normas e regras, que não conseguem experimentar a leveza da Graça.

Pessoas que se acostumaram às normas impostas e por isso não conseguem enxergar a verdade que liberta!
A verdade que nos faz livres e leves como a borboleta que com toda a sua aparente fragilidade consegue alçar vôos inimagináveis por aquele que tem a mente limitada e oprimida pelo jugo religioso.
Um jugo cem por cento humano e arrogante, que encarcera e maltrata a alma de seres cada vez mais entristecidos, abatidos, angustiados, onde uma constante crise existencial os coloca em um confinamento individual e coletivo travestido de igreja usando o nome do Senhor Jesus.

Aos que vacilavam na fé, Paulo os exortou a experimentar a liberdade em Cristo onde se faz uma escolha: a lei ou Cristo.


“De Cristo vos desligastes,
vós que procurais justificar-vos na lei;
da graça decaístes”.
(Gl 5.4)

Certa vez, uma crente muito oprimida, muito sofrida e também- e por isso mesmo!- muito equivocada acerca do Evangelho, comentou comigo sobre uma passagem bíblica que ela julgou ter-lhe sido enviada como verdadeira sentença.
Então eu pude perceber com imensa tristeza o quanto ela vem sofrendo...
E só por falta de entendimento, pois a Palavra cura e liberta.

A passagem era a seguinte: (Mt 14:29a33)

“E Ele disse:
- Vem!
E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus.
Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou:
- Salva-me, Senhor!
E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse:
- Homem de pequena fé, por que duvidaste?
Subindo ambos para o barco, cessou o vento.
E os que estavam no barco o adoraram, dizendo:
- Verdadeiramente és Filho de Deus!

E a "leitura" dela era a seguinte:

- “Pedro - que andava com Jesus - foi repreendido... Imagine eu!”

E aqui (como tentei mostrar-lhe) eu coloco três questões:

Primeira: há uma confusão que muitos fazem pelo fato de Pedro ser discípulo e andar com Jesus literalmente.
E aí está o xis da questão para muitos crentes nos dias de hoje.
Muitos se dizem servos, mas nem mesmo são servos de Jesus e sim da denominação; ora, se não querem ser servos quanto mais ser discípulos!
Quantas vezes já ouvi dizerem ah parecer com Jesus, ser como Jesus?!
Como se fosse algo tão inacreditável e impossível que ninguém nem ouse tentar, nem se atreva a dar o primeiro passo.
Então vi que essas mesmas pessoas que falam assim são aquelas mesmas legalistas que seguem a cartilha de sua denominação.
É como se elas se enganassem dizendo para si mesmas em total e completa teimosia:
já que eu resisto em mudar meu coração, meus conceitos, meu eu, então vou seguindo nesse faz-de-conta coletivo.
Gente que acha presunção querer ser parecido com Jesus, mas não acha ser presunção as exterioridades que camuflam os verdadeiros interesses do seu coração.
João diz: Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou. (ler 1João cap. 2 todo)
Segunda:
Pedro andou com Ele e nós andamos também, só que viemos de uma cultura onde se confia no que se vê e se pega.
E como Jesus não está materializado do lado da pessoa então ela segue no crendo/descrendo, lá fora do barco. Ela O admira, sabe da sua fama de "milagreiro”, mas acha mais prudente ter seu próprio caminhar.
Essa gente está na verdade, em cima do muro, embora admirando muito esse homem maravilhoso que teve um ministério incrível aqui na terra, mas como Ele não está mais aqui, então é melhor ela ficar na dela, seguindo os próprios passos.
Inclusive nem arriscar entrar na água para subir no barco de Jesus!
Até porque a fé do outro lá era pequena... imagine a dela!

Terceira: (ainda na percepção dela)
Jesus brigou, reclamou, irritou-se... Com o próprio discípulo!
Ou seja, o enfoque dela recaía na suposta repreensão.
O discípulo foi repreendido! <– para ela, essa era a questão principal.
Carregando em seu HD (seu disco rígido) uma série de conceitos distorcidos acerca do caráter de Deus, ela não atinou para a sequência dos fatos:

Em primeiro lugar:
E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o....

Em segundo lugar:
... e lhe disse: - Homem de pouca fé, por que duvidaste?

Não houve repreensão e sim comentário diante do óbvio!
Pois a dúvida se instalara quando Pedro deixou de olhar pra Jesus e se ligou na circunstância (na força do vento)

Mas Jesus estende-nos a mão prontamente!

Estando de olhos embaçados enxergamos a bronca e não conseguimos ver o estender de mão prontamente!

E muito menos ENXERGAR o final do texto:

“E os que estavam no barco O ADORARAM, dizendo:

- Verdadeiramente és o Filho de Deus!”

Pois é nessa adoração que Jesus nos ampara e nos faz encontrar descanso para nossa alma, independente da dimensão da nossa fé.

Ele age prontamente... Ainda que depois Ele nos mostre o quanto somos frágeis!

E que bom seria se permitíssemos que a nossa fragilidade fosse sempre proporcional à flexibilidade que nos faz rever velhos conceitos...
Aí enxergaríamos A Palavra como cura e não como repreensão.

Mas o que se assiste é a rigidez internalizada e arraigada na qual armando o próprio tribunal, nos tornamos nossos próprios juízes, julgando-nos com a nossa própria justiça, não nos perdoando a nós mesmos, chegando mesmo a acreditar que não há outra alternativa para se viver a não ser dentro de uma gaiola repressora que nos atraiu porque usa o nome de Jesus; que esse é, de fato, o estilo de vida do crente, como se fosse proibido ser feliz, pois alguém disse uma dia que se tem que sofrer para poder ganhar a vida eterna, desprezando a oração que o próprio Jesus ensinou e que as pessoas repetem mecanicamente: Venha a nós, o Teu Reino!

Estes sentenciam- para si e para os outros- pois sua opinião já está formada; fundamentada em conceitos que lhes foram passados ao longo de um processo que se tornou costumeiro, habitual, tradicional; e sob pesado jugo, onde ombros e pescoço de tão sobrecarregados, não permitem virar a cabeça ( a mente) para outras possibilidades.
Afinal, o peso é tão grande que a visão não alcança outra alternativa, a não ser a de olhar apenas pela lente da rigidez daquela doutrina de homens que o empurra cada vez mais fundo para a escuridão do abismo.
Eles estão tristes, angustiados... e presos!
E ironicamente... estão decididos, pois julgam que o jugo que carregam tem que ser o seu estilo de vida.

Ao que julga que deve carregar o jugo religioso nos ombros, meu conselho é simples: ler o Evangelho. Porém, só funciona se o ler com os próprios olhos, despido da rigidez imposta pelos seus líderes que em diligente e velado proselitismo colocou-lhes a canga do animal em treinamento, embotando-lhes os sentidos.

“Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.
Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.
Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (cf 2Co 3:14a18)

RF.

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